quarta-feira, 7 de julho de 2021

Review - Silver Case

A primeira vez que joguei The Silver Case foi um pouco depois do lançamento, foi um título muito esperado entre fãs de Suda51. Na época, 2016, não era tão familiarizado com suas obras, mas já adorava Killer7 e fiquei perdidasso jogando uma hora de Flower, Sun and Rain. Acabei largando o jogo devido algumas estranhices com o esquema de controle, você não podia nem usar o wasd para andar, e não estava com muita vontade de acompanhar tanto texto, o que leva a 2021, onde finalmente dediquei meu tempo para terminá-lo.

Originalmente lançado em 1999 para PS1, Silver Case é o primeiro jogo da Grasshopper Manufacture, sendo um tanto quanto básico, já que é uma visual novel/adventure, porém com uma junção de diversas coisas que poderia ser visto como ambiciosa, principalmente para um jogo de um estúdio pequeno. O visual é apresentado por janelinhas em um fundo de cenário de uma cor com diversos elementos como linhas, números, e textos, e mostrando imagens, vídeos e textos em janelas. Os ambientes de jogo são 3D, explorados em uma perspectiva de primeira pessoa e os gráficos são bem simplórios, lembrando JRPGS onde você navega em labirintos, como os primeiros Shin Megami Tensei. Não é um jogo que impressione pela alta qualidade técnica e polimento, o que o torna atrativo é a estética e suas ideias peculiares e criativas.


Silver Case é dividido em duas histórias: Transmitter e Placebo. Transmitter é a campanha "principal" onde você controla um personagem sem nome (ou melhor: você escolhe o nome) que entra na Unidade de Crimes Hediondos (UCH) após sobreviver a um ataque do serial killer Kamui Uehara. Em Placebo você acompanha o jornalista Tokio Morishima, que recebe um pedido para investigar o já mencionado assassino. Placebo funciona como uma história separada e um complemento para Transmitter, mostrando uma perspectiva externa dos eventos principais e explicando pontos importantes. O ideal é o jogador jogar um capítulo de Transmitter e pular para um de Placebo para facilitar a compreensão da trama, o que fui descobrir depois de já ter feito uns 4 capítulos de Transmitter, porém não acho que seja algo tão determinante, visto que eu iria pesquisar mais sobre a história de qualquer jeito.

As campanhas se passam no Distrito 24, um distrito fictício seguindo o modelo dos 23 distritos especiais do Japão, é o o local principal onde a narrativa desdobra e onde Kamui está sendo caçado por suas atrocidades. O 24º Distrito tem um padrão de vida alto e é pra ser um local exemplar para todo país, então a UCH serve para manter a paz no local usando métodos extremos. O primeiro personagem apresentado é Tetsugoro Kusabi, um detetive da UCH nos seus 40 anos, fumante e com uma atitude agressiva, aquele tipo de "tira" casca grossa. Eventualmente o protagonista entra para a UCH e começa ver que há algo bem complexo em relação as autoridades do distrito e os crimes realizados.

A narrativa consegue colocar a figura de Kamui Uehara de uma forma interessantíssima, que mesmo sendo um assassino, começa ser santificado dentro da comunidade do Distrito 24, gerando seguidores que formam cultos e até criam um site em homenagem à Kamui. O misticismo em torno do assassino tem uma vibe sinistra, você não sabe o que ele é, como ele age e quais seus objetivos, não se sabe se ele realmente tem algum poder. É um elemento forte para uma trama investigativa, há um mistério em relação ao seu alvo e eventualmente o protagonista começa a descobrir coisas mais aterrorizantes ao redor de todo o pânico e admiração por Kamui e aspectos surreais sobre o Distrito 24.


Cada caso possui mudanças nos elementos visuais do background, por exemplo no capítulo Kamuidrome, onde e a investigação é focada principalmente em verificar a internet, por fóruns, sites e salas de chat, e o fundo é uma tela verde e com umas linhas se passando entre si. É simples mas efetivo, e o plano de fundo se mantém entre casos ocorridos nos mesmos capítulos de Transmitter e Placebo, enquanto cada um dessas campanhas possuem estilos de arte diferente nos retratos dos personagens.

Há um certo problema de ritmo e algumas coisas questionáveis entre as histórias, ainda visto que as campanhas foram escritas por pessoas diferentes (Transmitter por Suda51 e Placebo por Masaki Ooka). Transmitter é mais diversificada, levando a história de um dia-a-dia de detetive, só que é um pouco mais confusa, já Placebo, além de dar detalhes importantes da campanha principal, é mais consistente, e Tokio Morishima é um personagem em si, enquanto em Transmitter, o protagonista silencioso é mais um avatar do jogador, o que dá espaço a seu colegas de trabalho da UCH serem co-protagonistas, que apesar de ações questionáveis, dão um lado humano e bem humorado.

Enquanto em Placebo, você basicamente passa a campanha dentro do seu apartamento, seja olhando pela janela, fazendo ligações, navegando na web e falando com sua tartaruga de estimação, Red. Eventualmente Tokio precisa sair de carro para encontrar algum contato, eventualmente comprar cigarro e comida para o Red. A rotina repetitiva acaba sendo algo mais aconchegante e familiar, eventualmente levando a situações escabrosas enquanto Tokio vai desvendando os mistérios por trás de Kamui.

A parte de jogabilidade é basicamente andar por aí, o que não me incomoda tanto, fora alguns puzzles parecerem meio deslocados, sendo aquele desafio que só tá lá pra dizer que tem, só pra dizer que o jogo é um adventure, não apenas visual novel. Felizmente você pode praticamente pular alguns desses puzzles com uma opção do remaster, imagino que muitos se incomodaram, como já mencionado, eu mesmo já tive problemas com ela, especialmente porque o prólogo é meio maçante.


Passando desses detalhes impertinentes, The Silver Case é legal, o jogo esbanja estilo em sua apresentação, mostrando vários tipos de mídia unificados para funcionarem como um jogo eletrônico, há animação, cenas em live-action, texto (muito texto), artes dos personagens, modelos em 3D do ambiente, além da música de Masafumi Takada tem aquele estilão futurista anos 90, ideal para um jogo de PS1, somando isso com a arte de Takashi Miyamoto, que tem uma pegada mais realista.

Vale ressaltar que muitas dessas qualidades estão de sua versão original, mas o Remaster faz um bom trabalho de deixar tudo mais apresentável e ainda ter o espírito de Playstation (alguns comparativos pra ter uma ideia), mesmo sem ser serrilhadão. Graficamente, os modelos 3D de cenário são simples e pouco detalhados, as artes estão em boa resolução, fora coisas como animações e trechos live-action, os vídeos não parecem terem recebido muitos retoques e devem ser praticamente os mesmos vídeos da era do PS1. 

The Silver Case foi o primeiro jogo da Grasshopper e mostra claramente o que os torna tão especiais. Pode parecer apenas uma história confusa e controles estranhos, o que são, mas também demonstra como formas não convencionais de apresentação, jogabilidade e narrativa podem trabalhar juntas para fazer algo criativo e estiloso. Acho que esse é o espírito da empresa e dos jogos do Suda que sempre geram curiosidade e fascínio de muitos jogadores.

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