sábado, 6 de agosto de 2022

Review- Prey



A franquia Predador é extremamente sofrida, começou com um clássico do cinema de ação com Predador(1987) estrelado por Arnold Schwarzenegger que era um filme slasher denso e com um grande embate entre uma das maiores estrelas de ação de todos os tempos e um inimigo que se tornou icônico. Depois disso Predador teve uma sequência bem ruim em 1990 estrelada por Dany Glover, os malfadados crossovers com a franquia Alien, o que gerou um dos piores filmes já feitos que foi Alien vs Predador 2, um medíocre filme produzido pelo Robert Rodriguez, e um filme medonho dirigido por Shane Black no qual passou por vários problemas de produção. Então depois de tantos fracassos seguidos é surpreendente que mais um filme da franquia seja lançado.

Se passando em 1719, Prey(me recuso a utilizar o ridículo título brasileiro) conta a história de Naru (Amber MidHunter) que tenta se provar digna de ser uma caçadora, mas ela acaba presenciando a chegada de uma nave que transporta um alienígena caçador que vai matando tudo que seja identificado como uma ameaça por ele, Naru então tem que se superar para se manter viva e proteger seu povo.

Prey já começa tendo uma ambientação riquíssima ao explorar os Comanches em sua terra natal, o diretor(Dan Trachtenberg) consegue explorar muito bem o cenário do filme ao utilizar planos abertos e bem hábil ao retratar passagem de tempo usando esses planos grandes e longos para fazer transições de cenários que acabam sendo bem elegantes e bonitos. Aliás, o terceiro ato é um espetáculo por utilizar um novo elemento visual dentro da narrativa e esfriar as paletas de cores, o que cria um contraste bem forte com o banho de sangue que é jorrado na tela.

Como um filme montado a partir de seus set pieces, Prey não desaba narrativamente como filmes estruturados dessa forma pois consegue ter um bom fio condutor com a performance de MidHunter como Naru, seu desenvolvimento durante o filme é tocante, a forma sempre determinada que atravessa um obstáculo atrás de outro sempre com enorme dificuldade mas sem nunca perder o foco e sempre aprendendo com cada desafio que lhe aparece, então seu confronto final contra o Predador torna-se crível e a resolução perfeita para sua jornada pessoal.

E se a narrativa funciona, as cenas de ação são o ápice do filme. As cenas são de uma brutalidade grande, são pesadas por serem cruas e sem exageros, perceba como a trilha sonora soa ausente nessas cenas e o som se foca no impacto dos golpes desferidos e nos ferimentos causados. O Predador mesmo se move com velocidade e peso, o transformando numa legitima máquina de matar que se torna extremamente ameaçador devido aos estragos que ele causa. Para causar esse pavor no espectador, o diretor introduz o alienígena sob o ponto de vista da protagonista e à maneira avassaladora que ele luta contra um urso é perfeita para nos ambientar sob o absoluto terror que a Naru irá vivenciar, a cena é filmada em planos fechados, e ao final se abre em um plano de alta profundidade com uma grandiosa imagem do Predador. Um movimento clichê mas muito eficiente para causar impacto e primordialmente bem executado.

É belo notar como Prey é também um filme sobre a natureza e como esses espaços são bem conectados, não se entregando a uma retratação pasteurizada e mostrando a violência que reina nesses ambientes, como no instante que Trachtenberg retrata como funciona uma cadeia alimentar(e o desfecho é profundamente apropriado), também como a protagonista vai utilizando do próprio ambiente como suas armas depois de sofrer por causa desses próprios espaços. Os duelos do Predador contra animais(infelizmente feitos em CGI, mas convincentes) são todos bem viscerais e violentos, o design de produção é bem eficaz ao manter as cicatrizes do Predador durante o longa e ele vai basicamente se modificando e se adaptando a cada cena e todas as suas armas parecem se encaixar na época sem parecer forçado ou algo muito injusto contra seus inimigos.

O mais interessante de Prey do ponto de vista técnico é sua linguagem. Dan Trachtenberg é parte de uma geração de jovens cineastas que carregam influencias cinematográficas tanto quanto influencias que vem dos videogames, outros nomes dessa geração são Duncan Jones(Lunar) e Michael Vogt-Roberts(Kong). Prey não é como uma simulação de videogame(isso geralmente não funciona) mas às referencias são explicitas, que vão de momentos tirados de God of War(2018) e da franquia Assassin's Creed. As influências vão desde de recriação de clássicos momentos desses jogos, aspectos visuais ou até mecânicas de jogabilidade. Não é uma nova linguagem que se forma no cinema mas é algo interessante de se observar.

Prey é uma revigorada forte e criativa em uma franquia que já estava acabada devido a uma série de filmes catastróficos, falar que é o melhor filme desde o original parece não ser grande coisa mas é seguro dizer que é um filme que está no mesmo nível que o clássico de 1987 e isso sim é um feito enorme e coloca Prey como o filme mais surpreendente do ano. Palmas.


9/10