quinta-feira, 22 de julho de 2021

Review - 25th Ward: The Silver Case

Seguindo o bonde de The Silver Case, fui para a sequência "direta" 25th Ward, que graças ao lançamento do anterior, conseguiu ver a luz do dia após passar anos sendo praticamente injogável, já que o mesmo foi lançado de forma episódica para celulares específicos em 2005 no Japão, e seu serviço de distribuição foi encerrado em 2007.

Apesar de ser uma sequência, o clima de 25th Ward: The Silver Case é bem diferente do original. Ao entrar no jogo, você é saudado pela tela de título, onde as letras se tornam um boneco digital. Esse avatar navega em um triângulo onde as pontas são os capítulos da história, enquanto isso toca trip-hop nervoso (ou seja lá qual o nome desse gênero) de Akira Yamaoka. Pular de The Silver Case para isso é bem estranho, mas reflete o quão diferente o Distrito 25 é comparado ao Distrito 24.

São três tramas diferentes se passando no 25º Distrito de Kanto, em Correctness, que é a campanha principal. A história é focada na Unidade de Crimes Hediondos desse distrito, aonde uma dupla de policiais recebe um novo recruta que serve parcialmente como os olhos do jogador. É um time bem peculiar composto de Mokutaro Shiroyabu, um cara meio desleixado e bundão, e Shinko Kuroyanagi, uma mulher com pavio curto e boca suja, e um detetive novato, servindo de protagonista silencioso, o que dá ao jogador um papel de observador para uma narrativa mais livre e com foco em múltiplas perspectivas.

Os outros dois capítulos, Matchmaker e Placebo, são histórias mais diretas e focadas. Matchmaker acompanha Shinkai Tsuki, um agente do Departamento de Ajuste Regional, uma órgão secreto do governo que faz ajustes em cidadãos do Distrito 25. Por ajuste entenda-se assassinatos. Tsuki é um veterano e é designado a trabalhar com o novato Yotaro Osato, talentoso porém descuidado e entusiasmado, fazendo contraste com a personalidade mais rabugenta de Tsuki. E o terceiro capítulo, Placebo, dá continuidade a história do jornalista Tokio Morishima, agora amnésico e entocado num barco onde um velho conhecido delega tarefas para investigar.

Cada enredo possui um compositor, artista e roteiristas diferentes, dando uma personalidade bem única para os capítulos, como em Matchmaker, que é uma história mais "direta", focada nos seus dois personagens principais, enquanto Placebo e Correctness são mais viajados, não só a história em si, mas os conceitos apresentados e as situações surreais. No fim, todos são sobre o peculiar 25º Distrito, um lugar com padrão top de vida, mas controlado por seu governo de maneira restrita, tanto que o Serviço Postal também trabalha com assassinatos, eliminando qualquer elemento que não siga o standard do local, o que leva a boa parte dos cidadãos à usarem a internet para interações sociais e diversas coisas.

O estilo de apresentar as artes e demais visuais em janelinhas de Silver Case ainda perdura, dessa vez sendo um pouco mais "avançado". Visto que 25th Ward é mais um remake completo de um jogo de celular underground, refizeram o background utilizando mais elementos e cores. Talvez essa estética seja o maior legado de The Silver Case, pois toda a atmosfera é diferente. Ainda é um adventure, bastante focado em investigação, mas bem mais caótico, diversas vezes ocorrem tiroteios, matanças e coisas mais descoladas do que uma simples história de detetive noir. 

Porém a jogabilidade não poderia ser menos empolgante. Claro, é um adventure, mas a exploração é bem nos trilhos e com eventuais quebra-cabeças, às vezes até encontrar um lugar é parte do puzzle, assim como usar itens ou ficar digitando senhas. 25th Ward utiliza um dado de quantos quer que sejam as faces para as interações, até mesmo digitar algo precisa que o dado mostre todo alfabeto. Não é algo prático, mas acho uma escolha estética bem legal que ressoa bem com outros elementos da jogabilidade, no qual vejo como um jeito de irritar o jogador, ou ser bem inconveniente. 

Quando se trata de responder algo, colocar uma senha e coisas parecidas, as respostas vêm dos diálogos ou dar uma olhada em algum elemento do cenário, então cabe ao jogador em prestar atenção, mas eventualmente o jogo tem alguma pegadinha, e assim como qualquer pegadinha, há pessoas que gostam e riem junto e pessoas que acham de mau gosto. Sinceramente, achei uma paródia bem pensada de jogos adventures, o que não me impede de ficar aborrecido em alguns momentos que são pura tentativa e erro. Como sessões de diálogo de Tokio com alguém na internet, os personagens comentam que é necessário entender o "fluir" da conversa para fazer as perguntas certas e não receber um fora, o que te coloca pra fazer as mesmas perguntas desde o início.

Fazer comparativos com The Silver Case acaba sendo inevitável jogando um após o outro, e penso que qualquer um que está interessado devia jogar os dois em ordem. Ambos possuem um estilo de apresentação parecido, só que enquanto TSC é uma história investigativa mais tradicional e séria, 25th Ward é muito mais maluco e imprevisível, apresentando as mais peculiares figuras e conceitos.

No vigésimo quinto distrito há diversas pessoas 'navegando' pela internet, compartilhando suas vidas, evitando o mundo externo devido a ameaças como entregadores assassinos, até isso vira parte da rotina e moradores começam a apostar quem vai ser a próxima vítima. De outro lado há policiais investigando essas mortes, de outro uma entidade secreta do governo investigando e ajustando entregadores que não fazem seu serviço direito, e eventualmente você encontra um esquisitão que se declara uma testemunha profissional e lhe dá dicas através da compra de bebidas naquelas máquinas automáticas. É estranho...

Há um pacotão chamado The Silver Case 2425, com ambos os jogos no Nintendo Switch, infelizmente num preço salgado, mas a boa e velha Steam está lá com seus valores bem razoáveis. Tanto TSC quanto 25th Ward são jogos meio difíceis de apresentar pra um público mais geral, há a barreira do textão, a dos controles estranhos e por fim, mas não menos importante, a da loucura de pedra do Suda, que dependendo da pessoa é mais um chamativo do que um impedimento. Porém, passando dessas barreiras, sinto algo parecido como foi com Killer7, pode ser um jogo difícil de engajar no primeiro instante, mas após insistir e abraçar o bizarro é ainda mais difícil esquecê-lo.

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