quarta-feira, 4 de maio de 2022

Relembrando #1: Silent Hill 4 The Room



Silent Hill 4: The Room veio para quebrar paradigmas da franquia, começando por uma nova perspectiva em primeira pessoa quando o protagonista está trancado em seu quarto(grande parte do jogo é você enclausurado nesse ambiente) e também por esse local não se passar em Silent Hill e sim em South Ashfield, uma cidade que fica a 270/km de Silent Hill como foi revelado por meio de um easter egg em Silent Hill Downpour.

O terror sempre foi um espaço para comentários e críticas sociais, focando no Japão, a série Ju-On(O Grito) começou como um paralelo sobre a crescente violência doméstica que ocorria no Japão no final dos anos 90, então é muito apropriado que Silent Hill aborde algo que estava em voga em meados dos anos 2000 na sociedade japonesa que era o fenômeno conhecido como Hikikomori, um estado onde o individuo se isola completamente em seus quartos e suas casas longe de qualquer tipo de contato social, e isolamento é o tema principal do jogo.

O protagonista se chama Henry Townshend, um morador de um prédio chamado South Ashfield Heights, Henry é uma pessoa "comum", provavelmente um fotografo, uma pessoa que fala sempre com voz baixa sendo totalmente introvertido e com um grau alto de ansiedade ou até uma fobia social.

Em Silent Hill 4 nós acompanhamos Henry enquanto ele está a cinco dias em completo isolamento em seu apartamento, quarto 302, sem conseguir se comunicar com ninguém fora de sua moradia e com umas correntes na sua porta que o impede de sair. Até que em um dia um estranho buraco se abre na parede de seu banheiro, para tentar fugir, Henry entra nesse buraco e é transportado para Silent Hill, a partir daí ele entra em uma rede desses buracos que sempre o transporta para partes diferentes da cidade nebulosa.

O antagonista do jogo e a parte chave do enredo se chama Walter Sullivan, Sullivan é um serial killer falecido que se suicidou com uma colher após ele ser preso por assassinatos e anos depois os assassinatos com o mesmo padrão voltam a acontecer. Sullivan é um produto da solidão, foi abandonado por seu pai, perdeu sua mãe quando criança, foi criado no orfanato de Silent Hill(sim) e sua busca incessante pela única pessoa que demonstrou afeto por ele lhe guia por um caminho bastante violento.

Walter é sem duvida meu personagem favorito da saga, uma figura complexa e que é desenvolvida no jogo desde sua infância, e é interessante que constantemente vemos e interagimos com o Walter criança, vemos uma criança doce e frágil, um contraste enorme com o assassino violento que ele se torna e o jogo não se furta de mostrar suas vítimas sendo assassinadas e os corpos delas. Toda motivação macabra de Walter Sullivan e o segredo por trás do apartamento de Henry são cuidadosamente construídos pela narrativa e todas as revelações são impactantes, Silent Hill 4 ainda de maneira sútil inverte o padrão da saga, colocando justamente o vilão em busca de seu familiar e não o protagonista como nos jogos anteriores e isso enriquece ainda mais o vilão mas Henry não é muito bem desenvolvido deixando muito para a suposição mas sem muito material muito sólido para formar teorias.

No geral, Silent Hill 4 tem uma história riquíssima, tão macabra quanto os jogos anteriores e diferente mas sem entrar no campo da descaracterização, adorei a história de serial killer , todo o background em relação ao apartamento do Henry e aos assassinatos de Sullivan é brilhantemente construído e as sutis ligações com jogos anteriores da série mexe com o coração(e o estômago) de qualquer fã da saga.

Em questão de gameplay, o jogo da mais foco ao combate e se abstém quase completamente dos puzzles, Henry pode carregar uma seleção grande armas brancas mas apenas duas armas de fogo, uma adição ao combate é a possibilidade de "dar carga" nos ataques com armas brancas causando uma quantidade de dano maior que os ataques convencionais, o que deixa o combate mais interessante e menos monótono, os inimigos são assustadores, os fantasmas imortais que nos perseguem são arrepiantes e à existência desses inimigos estão intimamente ligadas a Walter Sullivan o que enriquece ainda mais a história do jogo.

Tecnicamente o jogo não apresentou evolução em relação ao terceiro jogo e parece até menos bonito mas é algo perdoável se levar em conta que é um projeto menor, os cenários são um pouco pobres e bem repetitivos, a prisão é uma boa parte do jogo com muitos níveis, bem construída, é onde tem o único puzzle do jogo e é um bom puzzle, as fases são bem lineares perdendo a sensação de exploração que a franquia tinha, mas o quarto 302 se tornou um ambiente icônico na franquia, principalmente por ser bem detalhado e com um peso enorme pra história do jogo.

Silent Hill 4: The Room é um jogo um pouco esquecido dentro da franquia, talvez por se tratar de uma história isolada, nesse sentido o 2 teve um impacto bem maior(foi ajudado por se o primeiro jogo de uma nova plataforma), ou por ter um gosto agridoce por ser o último jogo da Team Silent, mas foi uma despedida em grande estilo da saga clássica.



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