sábado, 4 de dezembro de 2021

Review - Resident Evil: Bem Vindo a Raccoon City


Durante mais de uma década os fãs de Resident Evil foram aterrorizados com os filmes live-action da franquia estrelados por Milla Jovovich que rendeu momentos trágicos como uma troca de socos contra o Nemesis, um Chris Redfield prisioneiro e o Doutor Isaacs convencendo executivos da Umbrella que o fim do mundo seria bom para as ações da empresa que no momento estavam em queda(pois é). O que nos leva a conclusão óbvia que esses filmes eram tudo menos Resident Evil.

E após tudo isso o reboot cinematográfico da franquia chega aos cinemas e conta a história de Claire Redfield(Kaya Scoodelario) seu irmão Chris(Robbie Amell), Leon Kennedy(Avan Jogia), Jill Valentine( Hanna John-Kammer) e Albert Wesker(Tom Hopper) que tentam sair da cidade de Raccon City antes que ela exploda e vão ter que lidar com as ameaças biológicas e os mistérios e conspirações que rondam a cidade.

Com a missão de tentar fazer um filme que seguisse mais a linha dos dois primeiros jogos o diretor  Johannes Roberts(Medo Profundo) que também assina o roteiro já começa com uma boa decisão de tornar os acontecimentos dos dois primeiros jogos em simultâneo e sendo bem honesto, os primeiros jogos não tem material o suficiente pra sustentar um longa metragem, porém a boa ideia não se traduz em uma boa execução já que o filme é corrido demais, e o arco do Leon é bem errático, quando ele começa a se adaptar a situação caótica o filme acaba, a Lisa Trevor que é a única criatura bem feita do filme é totalmente jogada no enredo e o roteiro falha miseravelmente em explorar a figura trágica que conhecemos no Resident Evil Remake(2002) chegando ao cumulo de ter uma patética cena de luta entre ela e um Licker em CGI que parece ter sido feito em 1998.

Homenagem ao poder de processamento de CG's do Primeiro Playstation? Pode ser.

A direção de Roberts tem momentos inspirados como alguns longos takes com alta profundidade de campo como a introdução à delegacia onde ela parece ser construída a mão sendo uma perfeita tradução do que vemos nos jogos mesmo que só apareça poucas partes dela e a cidade com uma constante chuva e névoa fazem o visual do filme ser interessante e a inspiração em John Carpenter é evidente pena que essa inspiração seja limitada apenas ao visual e alguns conceitos narrativos como a delegacia sendo abandonada e a passagem de tempo marcada na tela, mas essas cenas mais ambiciosas são poucas e a maior parte do tempo é abaixo do medíocre, a insistência em martelar referência dos anos 90 é irritante(o filme já começa com um letreiro indicando que é 1998, acho que isso já basta) e as cenas de ação são pavorosas, os cortes caóticos junto com a péssima fotografia que é muito escura e as cores mais fortes aparecem estouradas na tela torna tudo incompreensível, a cena de um ataque zumbi ao Chris feitas com flashes de luz na tela é o resumo perfeito do que é o caos técnico desse filme. O que poderia ser divertido de assistir que seria ver os zumbis sendo massacrados acaba sendo ruim seja pelas já mencionadas péssimas cenas de ação ou pela maquiagem amadora das criaturas. Resident Evil errar nos zumbis é preocupante mas ao menos o gore é bem feito.


Gastaram metade do orçamento nela.

Demonstrando uma insegurança monstruosa, Roberts não escolhe o tom da narrativa e não sabe se tenta fazer algo mais sério ou cair de cara na trasheira e o filme fica intercalando entre esses dois momentos acaba falhando em ambos, a cena de um homem pegando fogo correndo pra delegacia arranca risadas constrangidas do público e a tentativa de fazer drama é patética pela péssima performance da maioria dos atores e pelo texto pobre.

Roberts falha ainda mais tentando fazer terror e se limita a jumps scares baratos e a mixagem de som é péssima, ora soando baixo demais e ora alta demais, mas um fator excelente aqui é a trilha sonora original que parece ter sido extraída diretamente de filmes de terror dos anos 80 com uso de sintetizadores e pianos tudo bem orquestrado mas o uso de músicas pop é péssimo e totalmente irritante.

As atuações no geral foram ruins, a Claire tem um visual OK e tem um arco narrativo razoavelmente bem definido(o único) apesar da atriz parecer desinteressada em tentar arrancar algo dessa situação, o Chris tem o melhor visual e não é totalmente desvirtuado dos videogames, o que compromete é a performance péssima do Robbie Amell mas surpreendentemente ele não é o pior ator do filme(que elenco hein!) e quem consegue superar ele nessa dura tarefa é o Tom Hooper que parece sofrer de uma grave paralisia facial e o Wesker ser transformado em um mero capanga foi uma decisão inexplicável. 

A Jill é a personagem que mais foi desvirtuada dos jogos, nenhum resquício do que ela é nos games aparece, nesse filme ela parece uma Michelle Rodriguez genérica se limitando a fazer piadas(ruins) durante o longa e existe uma tentativa de fazer um triângulo amoroso entra ela, Wesker e Chris que é tão mal desenvolvido que parece ser parte das cenas deletadas que o diretor esqueceu no corte final.

Como a Jill ficou ruim...

Avan Jogia faz um trabalho bem competente não caindo na armadilha em transformar o personagem em um alívio cômico e consegue dar aquela ternura que vemos do Leon nos jogos o problema então se limita ao roteiro que faz o Leon ser apenas um incompetente a maior parte do tempo e o arco dele é praticamente inexistente tendo apenas um começo como um policial novato em seu primeiro dia de trabalho tendo que lidar com a catástrofe da cidade mas não tem desenvolvimento nem conclusão, quando ele começa a se adaptar a situação o filme termina abruptamente mas a performance de Jogia é a única que me faz querer ver ele de volta no papel.

Conseguiu encarnar perfeitamente o Leon do segundo jogo, pena que o roteiro não ajudou.

Além de Jogia outro que merece destaque é o Donal Logue como Brian Irons, interpretando o chefe de polícia de uma forma histriônica, ver ele xingando seus subordinados são as únicas coisas humorísticas do roteiro que funciona bem, infelizmente seu background sinistro dos jogos não tem vez aqui.

Resident Evil: Bem Vindo a Raccoon é um filme profundamente problemático mesmo que consiga executar bem alguns conceitos visuais da série e ter algumas cenas interessantes mas falha em fazer uma narrativa que seja minimamente bem estruturada e a fidelidade prometida se limita apena a história geral e parcialmente a ambientação não se estendendo aos personagens e suas personalidades e arcos narrativos. 

5/10

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