sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Review - Scott Pilgrim vs. The World: The Game

No meio “mítico” dos jogos digitais que entraram num limbo devido a direitos autorais, Scott Pilgrim foi um dos mais queridos, visto que era atrelado a uma franquia de tamanha popularidade no início da década de 2010. Agora com o relançamento de Scott Pilgrim vs The World The Game para todos consoles modernos, finalmente tiraram ele do limbo digital.

A série estava num boom enorme e, o quadrinho estava para acabar, um filme tava pra sair e tivemos um jogo, que assim como a obra original, era inspirado por diversos jogos, mas a escolha do gênero de beat ‘em up é bem certeira, já que combina com a proposta de Scott Pilgrim, além de puxar bastante da nostalgia da época.

O titular protagonista é um jovem de 20 e poucos anos que conhece uma mina chamada Ramona Flowers e não consegue tirá-la de sua cabeça. Após conseguir firmar um relacionamento, Scott descobre que Ramona têm 7 ex-namorados que estão dispostos a lutarem por ela. Apesar de ser um baixista fracassado da Sex Bob-omb, uma banda totalmente desconhecida, Scott Pilgrim é um porradeiro decente e entra de cabeça nesse desafio.

Traduzindo isso para o jogo, acaba se tornando um beat ‘em up com elementos de RPG, inspirado por River City Ransom, onde podemos selecionar não apenas Scott, como a Ramona, os outros membros da Sex Bob-omb, Wallace Wells e Kim, assim como outros personagens. Não há muitos aspectos únicos para cada personagem, fora o visual e as animações, os golpes não possuem propriedades diferentes, e não há aquelas diferenças básicas de personagem ser mais forte, porém mais lento.

O jogo é dividido por fases, acessadas num overworld, e as mencionadas fases tem lojinhas. Você pode comprar itens para aumentar seus stats e algumas comidas para te darem uma nova chance após morrer. Esse sistema de RPG do jogo é ok, já foi feito melhor em muitos lugares, até no próprio River City, o problema é que você começa extremamente capado, seu personagem é lento, bem pouco dano e sem boa parte da movelist, pois você precisa aumentar de nível para desbloqueá-los.

Há uma estratégia comum entre jogadores, onde um cheatcode te mata e dropa algum dinheiro, mas ter um alimento no inventário permite que o personagem sobreviva. O que permite pagar sua dívida atrasada na locadora e poder pegar os VHS que aumentam muitos seus stats e dão lvl up. É o jeito mais fácil de deixar seu personagem completo e o jogo ficar menos pior, só que ainda há muitos problemas.

Começando pelo “feel”, a maioria dos beat ‘em ups, assim como jogos de luta, tem que ter um peso no controle do personagem e impacto na animação e áudio. Scott Pilgrim é bem falho nisso, tirando a animação, que é muito bonita e fluida, ainda mais usando esse estilo de arte pixelado, mas com fidelidade aos visuais do quadrinho. Mas o jogo parece bem truncado, falta bastante fluidez no movimento, parece que seu personagem está colado ao chão, o que é um pouco melhor com as melhorias de stats.

O segundo fator, e mais decisivo, seriam os inimigos, indo da IA, para golpes e todo balanceamento, que parece que foi muito mal programado. O comportamento da IA é ficar no seu canto até que, do nada, ela avança em você e te manda um combo, é bem desengonçado e estranho. Às vezes o adversário já surge na tela fazendo isso, é bem irritante, e a maioria dos inimigos têm padrões parecidos, sendo que alguns são mais agressivos, enquanto outros mal desferem ataques. E é claro que as dificuldades mais altas só aumentam a barra de vida deles e o dano.

É o tipo de jogo baseado em uma IP que só salva pela estética, música e o fan-service, e não é à toa que Scott Pilgrim é tão querido. Como já mencionado, a arte e animações são muito boas e pegam muito bem o espirito cartunesco e "videogamístico" da obra, e a trilha sonora não é diferente. Composta pela banda Anamanaguchi, que mistura áudio chiptune com rock, é basicamente a mistura perfeita e ideal para Scott Pilgrim. 

Já ouvi as histórias de desenvolvimento do jogo, de como ele passou entre estúdios, de como a parte da arte já estava pronta e o time teve que se virar em questões de meses pra implementar tudo e lançar o Scott Pilgrim nas plataformas digitais. O próprio diretor de arte, Paul Robertson, responsável por toda a estética, já relatou que trabalhar no projeto foi estressante. O que sempre é uma pena, visto que há bastante carinho pelo gibi no jogo, fora alguns conceitos criativos durante as fases, mas as decisões da Ubisoft prejudicaram os desenvolvedores.

O eterno debate da importância de gameplay e como se aplica ao jogo é uma tese interessante, vendo como Scott Pilgrim vs. The World foi requisitado até relançarem, pois duvido alguém gostar dele por aspectos de jogabilidade, ou talvez muitas pessoas perderam a oportunidade de jogá-lo na época e conhecerem a franquia depois. É o tipo de jogo que já bate interesse ao ver uma screenshot, e mais ainda vendo um vídeo e ver como a música e animação são primorosas. 

O que ele faz bem, de referenciar o gibi, trazer aqueles personagens, chefes e situações em movimento pra um videogame, é louvável. Visto como é um gênero que é fácil de entender e jogar, ainda contando com o fator co-op, é fácil ver como simplesmente podem ignorar esses erros e se divertir, só é uma pena todos esses aspectos estejam atrelados a um beat 'em up tão meia boca e o relançamento não parece corrigir nada.

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