sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Review - Bayonetta 3

Mais uma esperadíssima sequência, Bayonetta 3 foi revelado em 2017 no The Game Awards apenas mostrando a protagonista titular sendo derrotada, e visto o estado atual do terceiro jogo, imagino que não deviam ter muito além disso. Após 4 anos, finalmente temos o produto finalizado, quer dizer, mais ou menos...

Primeiramente, ele não é muito bonito, sabemos que o Nintendo Switch anda tendo problemas com performance em lançamentos recentes, mesmo Bayonetta 3 tendo esse problema, ele é visualmente inferior aos títulos anteriores, e perante a seu primo, Devil May Cry com DMC5, é uma sacanagem comparar. Longe de ser feio, mas ele tem aquela cara meio jogo AA, faltando uma característica visual mais marcante, fora os cenários serem menos vibrantes e vivos, é algo que lembra Nier: Automata, só que mantendo o padrão de capítulos de Bayonetta. 

Ao menos, o show extrapolante continua com suas setpieces e cenas absurdas da heroína punindo seus adversários, porém, a protagonista é bem mais comportada, faltando sua atitude mais provocante e maliciosa. Como envolve a premissa de "Multiverso", fica claro que pode ser outra Bayonetta, mas imagino que essa mudança deve ter rolado também devido a dubladora antiga, Helena Taylor, não reprisar o papel. Acho que é uma escolha mais adequada, pois por mais que Jennifer Hale seja incrível, o tom dela é bem diferente para a personagem.

O enredo coloca Bayonetta contra novos inimigos, os Homúnculos, seres de aparência meio tecnológica e com coloração verde e branca que fazem parte da Singularidade. Eles viajam entre universos com objetivo de destruí-los e unificar tudo, mas sempre existe uma Bayonetta alternativa disposta a lutar contra eles. A bruxa recebe a visita de Viola, uma sobrevivente de um universo destruído pelos homúnculos, ambas viajam pelo Multiverso enfrentando essa ameaça.

Encontrar versões novas da Bayonetta e alguns outros personagens é legal, mas elas são pouco aproveitadas em geral, servindo mais para mostrar uma realidade alternativa com uma Bayonetta com roupas e armas diferentes, como a Bayonetta japonesa com jaquetinha, shortinho, um cabelo rabo de cavalo enorme e usando um ioiô como arma. A maioria das vezes, você ajuda a nova Bayonetta, ela luta contra um homúnculo forte e acaba morrendo de uma forma besta e lhe dá a sua arma e demônio.

O conceito de multiverso ficou popular nos últimos anos, e não acho que façam algo especial com ele aqui, mas aprecio os trajes alternativos, certamente foi a chance de despejar diversas concept arts da Bayo. O pior que isso é o menor dos problemas na narrativa. O que era para ser uma aventura por diversos mundos e culminar entre um confronto épico com o vilão mais perigoso de todos, acaba sendo enfadonho. Os antagonistas são sem graça, o que faz sentido por serem seres sem personalidade, mas é um downgrade absurdo dos anjos grotescos e demônios “geométricos” dos jogos anteriores.

A nova personagem, Viola, é um caso à parte. Apesar de seu visual punk com sua jaqueta de couro, botas, calça xadrez e cabelo tricolor, ela é uma pateta. Viola contrasta com Bayonetta, tentando ser uma bruxa poderosa e confiante, mas sempre cometendo erros. Gosto dela e acho engraçada pelas bobices, infelizmente ela só possui três missões únicas na campanha, não ganha armas novas e não tem uma evolução significativa pela trama e nem pela jogabilidade.

Viola possui uma katana que pode realizar golpes carregados para dar mais dano, ou ser arremessada no chão para invocar Cheshire, um gato demoníaco gigante controlado pela IA, então Viola luta com os punhos e perde a capacidade de se defender, que é a forma da personagem entrar no Witch Time, onde o ambiente fica em slow-motion e permite que você contra ataque. Ela deveria ser a personagem mais simples e acessível, mas a falta de uma esquiva boa e mais opções de combate deixam-a sendo a mais difícil. 

O patch 1.2 trouxe melhorias significativas para Viola e a personagem é 10x mais divertida e funcional agora, especialmente por facilitar o uso do bloqueio, só que seu arsenal continua limitado. Fora as habilidades adquiridas pela skill tree, a única adição pela história é uma forma diferente, que não expande seus golpes, mas serve como uma transformação explosiva para bater mais forte nos inimigos. 

Já Bayonetta possui suas novas pistolas “Colour My World” que são combinadas entre seus socos e chutes para criarem seus combos. PKP, segurar botão para estender alguns golpes, fazer dodge-offset e etc. O que tinha nos jogos passados está aqui e com animações incríveis e coreografias únicas. Mas o ponto principal e mais divisivo do terceiro título vêm com os demônios.

Primeiro, você tem o “Demon Masquerade”, uma onde cada arma é associada a um demônio, e a Bayonetta se transforma em uma fusão dela e o demônio para fazer alguns golpes e opções de movimentação. Com o ioiô infernal Ignis Araneae atrelado ao demônio Phantasmaraneae, Bayo se torna um híbrido de mulher com aranha e pode usar as teias para se balançar pelo cenário e subir pelas paredes.

Cada arma dá uma forma diferente e abre possibilidades de movimentação, o que gera novos desafios de plataforma e mini puzzles. Infelizmente, não há tantos, mas quando tem, é a chance do jogador começar a matutar qual o jeito de subir num local alto, ou pegar os colecionáveis. Aliás, o coletável mais legal são as Umbran Tears of Blood, cada fase possui 3 e cada um delas está com um gato, um corvo e um sapo, enquanto os dois primeiros fogem, o sapo se esconde pelo cenário e o único indicador e seu coaxar.

Enquanto a mudança para mapas gigantes não seja lá o aspecto favorito de todo mundo, principalmente pelos ambientes serem vazios, acho que só essas possibilidades de exploração já justificam a escolha, e é claro que algo nesse estilo em um hardware como o Switch não ia garantir uma performance 100% boa. Só que essa mudança de level design não foi feita apenas por isso.

A mecânica nova e o maior divisor entre fãs é o Demon Slave. A protagonista sempre invocou demônios durante cutscenes e quick time events, agora, eles são parte da gameplay. São seres grandes com ataques fortes e outras peculiaridades que Bayonetta controla através de sua dança, deixando-a parada e vulnerável, sem poder atacar, e desviar faz o demônio sumir, mas existem formas de usar eles brevemente e continuar controlando a personagem.

O jogo ensina a deixar o RT pressionado e controlar o demônio, mas o ideal é pressionar brevemente, mandar um ou dois golpes com a invocação e voltar ao controle da Bayo para lutar junto ao Demon Slave. Os demônios são ferramentas essenciais, tendo até uma barra própria para limitar seu uso, fora o fato deles poderem tomar dano e morrer, ou se rebelarem. Não é um risco tão grande, a primeira jogada no normal, dificilmente vi um demônio se rebelar, mas alguns inimigos podem ser mais difíceis de lidar, te fazendo alternar entre seus summons ou usar golpes menos arriscados.

Visto a importância do Demon Slave, os cenários são grandes e muitos inimigos também. A introdução dessa mecânica que faz Bayonetta 3 ser tão diferente e gerar uma estranheza para jogadores dos jogos anteriores, mas é só questão de tempo até se acostumar. Há também mecânicas complementares dos demônios, O Demon Counter, onde é possível invocar o demônios antes do ataque inimigo te atingir para ter um counter, ou algumas strings de combo podendo ser finalizadas com um ataque de demônio, chamado de Wink Slave.

Essas mudanças de jogabilidade foram arriscadas e é uma escolha que trazem alguns defeitos. Já mencionei a performance e gráfico serem medíocres, mas existem outros problemas que não haviam antes, como a câmera atrapalhar com seu posicionamento estranho, além de ficar meio perdido em meio as batalhas devido ao tamanho dos inimigos. E penso que parte desses problemas são piores no modo portátil.

Um detalhe que ficou pior seria a parte de áudio. O sound-cues de Bayonetta, como os anjos falando algo antes de atacar, sempre foram uma parte brilhante para incentivar o jogador prestar atenção no combate. Bayo 3 ainda tem isso, porém são sound cues meio baixas e somando com os outros problemas de câmera e dificuldade de visibilidade, acabam deixando as lutas mais difíceis desnecessariamente.

Na verdade, não é lá um jogo tão difícil, até mesmo pegar as platinas em cada fase é mais fácil, pois o seu ranking é atualizado individualmente por cada “verse” da fase. Então, você pode platinar partes da fase sem se preocupar em fazer tudo perfeito. Ainda existe a dificuldade máxima, Infinite Climax, liberada após terminar a campanha, onde a ordem de inimigos muda pelos capítulos e eles são mais agressivos e dão muito mais dano.

Por fim, há algumas fases com a Jeanne, onde você controla ela com poderes limitados e em um plano 2D. Eliminando homúnculos com golpes furtivos e algumas armas que você acha pelo cenário. A inspiração em Elevator Action é clara, porém ele mistura alguns trechos de ação diferentes e outras coisas. Gostei bastante dessas fases, apesar de ser uma sacanagem ter mais delas do que fases com a Viola, é uma boa mudança de ritmo e você até libera um minigame separado ao terminar ela. Além da Jeanne ser jogável após terminar a história, mas não na campanha principal, o que é estranho, comparando aos jogos anteriores.


O que gostei tanto de Bayonetta 3, principalmente comparando com o 2, é o fato de tentarem trazer algo novo para a jogabilidade. Enquanto está longe de ser 100% perfeitinho, o arsenal absurdo e summons são muito únicos e variados. Infelizmente, você pode ter apenas duas armas e três demônios durante a gameplay, podendo alternar o seu equipamento na tela de pause. Fora isso, as mudanças de menus e lojas foram para o melhor, tendo "moedas" diferentes para adquirir golpes, itens e roupas, o que deixa mais fácil de adquirir golpes, ainda mais que a movelist da Bayonetta funciona como uma pseudo skill tree e há muita coisa para desbloquear.

Se tem algo que fazem bem são as “setpieces”. O jogo proporciona momentos incríveis e com mudanças de jogabilidade que são tão legais, como as lutas de kaiju, onde os controles são similares àqueles jogos do Godzilla/Ultraman de SNES. Mesmo não sendo visualmente tão impressionante, ele consegue impressionar puramente pela criatividade dessas lutas e como incorporam os Demon Slaves nelas, parece até algo mais na onda de Wonderful 101.

No meio de tantos probleminhas que podem ser arrumados em patchs, o que dificilmente não ser melhorado é a história. Enquanto não vejo problema de terem mudado a Bayonetta para uma versão mais “comportada”, principalmente devido a mudança da dubladora, toda a narrativa ao redor é bagunçada. As Bayonettas de outras realidades são pouco aproveitadas, os vilões são apáticos e a narrativa tenta te fazer importar com coisas que não acabam não tendo peso. Já vi bastante críticas à franquia em termos de história, cujo acho a maioria um tanto injustas, mas não em relação ao terceiro jogo.

Obviamente, alguns problemas podem ser mais notáveis para alguns, e, para mim, a história não é algo que tem tanto peso, apesar de achar que ela é ruim o bastante para ser perceptível. Assim como Devil May Cry, o que leva a trama são os personagens, e acho que fizeram pouco com eles, especialmente a novata Viola, que gosto bastante devido seu contraste de visual punk com sua personalidade boba. É um jogo que adorei, porém os defeitos acabam se destacando tanto ou mais que suas qualidades, e ainda assim, é um hack n’ slash divertido que despeja uma porrada de ideias legais, só precisava de mais consistência.

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