segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Review - Dead Space 2

Já falei do primeiro Dead Space aqui, apesar de não ter gostado tanto quanto eu gostava há uns 10 anos, foi um marco dentro do gênero de jogos de terror, seguindo os passos de RE4, mas indo para o lado de terror espacial e tendo um bom equilíbrio entre ação e horror. Com a vinda do remake do primeiro, decidi revisitar Dead Space 2, lembrando que houveram uma porrada de spin-offs entre os jogos, mas não me importo o bastante com nenhum deles.

Após o sucesso estrondoso, era esperado um segundo título e a Visceral entregou um novo capítulo da história de Isaac Clarke, três anos após sobreviver ao pesadelo na estação espacial Ishimura. Sem muita lembrança do que aconteceu durante esses três anos, mas acordando em uma camisa de força em uma estação espacial chamada Titan Station, ou Sprawl, que acabou sendo infectada por Necromorphs. Isaac vai ter que confrontar esses seres monstruosos novamente, redescobrir o que aconteceu durante esse tempo todo e lidar com seus traumas após a Ishimura.

Uma das maiores mudanças já é vista de cara, ou melhor, ouvida. Isaac não é mais um protagonista silencioso. Talvez, a tragédia do primeiro jogo tenha tirado sua timidez, ou curado sua mudez. Piadinhas de lado, é uma mudança bem positiva, pois prefiro que um personagem faça parte ativamente da história, ainda mais em algo como Dead Space, onde bastante pessoas interagem com o protagonista. Ser apenas um avatar do jogador não significa que o silêncio seja uma opção certeira, além do mais, não há forma de interagir com os outros, então não é como se fosse um caso de RPGs com múltiplas escolhas de diálogo.

Agora podemos ver como Clarke está após uma situação catastrófica, não apenas lidando com seres grotescos, como perdendo sua namorada Nichole no progresso e carregando a culpa de ser o responsável por ela estar na Ishimura. Pode não ser exatamente tão bem escrito e ter uns diálogos meio cafonas, mas é interessante ver o protagonista lidando com isso, até vendo projeções de sua namorada morta falando com ele. Inclusive, não dá para saber se é exatamente uma projeção de sua culpa, ou é coisa da manipulação do Marker, o artefato alienígena que cria os Necromorphs através da degradação mental de seres humanos.

Há outras pessoas que você encontra pela Sprawl, desde autoridades, outras vítimas e outros trabalhadores, visto que é um local enorme e cheio de setores. Fica sempre aquela dúvida no ar se é possível confiar nelas, mesmo que não haja escolha. Explorar a estação leva a descobrir segredos sinistros da humanidade, incluindo uma religião atrelada ao Marker, o que implica coisas terríveis que fizeram a Isaac durante três anos e coisas terríveis que fizeram ele fazer.

Gosto bastante da história, mesmo não sendo o tipo de pessoa que se aprofunda muito em lore e coisas do tipo, ao menos a do universo de Dead Space. Há um bom ritmo da trama e como os acontecimentos se desenrolam, fora que a premissa em si já é mais interessante que o anterior, além de trabalhar bem o fato de ser uma sequência. Só é chato ser tudo ser feito “em tempo real”, então não é possível pular as cenas.

O jogo é linear, o que não é um detrimento, já que o primeiro jogo também era assim, apesar de disfarçar um pouco com algum backtracking e reutilizar cenários entre capítulos, mas nada comparado aos clássicos do survival horror. O importante éque Dead Space 2 é um tipo de jogo que não “deixa a peteca cair”, você sempre está indo em frente e encontrando novidade. E olha que a estação é gigante, tendo diversos setores dedicados ao governo, religião e educação, e isso também vêm junto de uma maior variedade de necromorphs.

Entre as funções básicas do gênero falta um mapa, então seu único guia é um indicador que mostra uma linha levando ao objetivo, também podendo mostrar o save point, loja e banco de upgrades mais próximo. Só fui perceber isso pela metade da campanha e acabei me surpreendendo com essa escolha. Achei bem inteligente pois cria mais tensão e expectativa ao saber que há algo numa direção, mas não dá pra saber o quão longe está, fazendo que qualquer nova porta aberta traga uma surpresa. Também é possível usar o indicador para desviar do caminho principal e explorar o cenário em busca de recursos sem se preocupar em entrar em uma cutscene ou evento importante.

Joguei na maior dificuldade disponível, Zealot, onde qualquer toquinho de um inimigo é um grande prejuízo e a munição é escassa. Seria mais difícil se o loot dos inimigos não priorizasse sempre lhe dar cura quando você tem pouca vida, mas ao menos não tornou uns trechos mais inconvenientes, ainda mais quando os checkpoints ocorrem em praticamente toda sala que você entra. Só é ruim o fato de certos checkpoints serem mal posicionados, obrigando o jogador a pegar os mesmos itens de novo toda vez que morre, ou esperar uma cena se repetir.

Ao terminar a campanha, é liberado a dificuldade Hard Core, onde não há checkpoints e só é permitido salvar três vezes pelas save stations espalhadas pelo mapa. Como já mencionei, não quero rejogá-lo tão cedo e certamente não me vejo tentando esse modo, visto que há muito mais que três trechos que tive dificuldades e vou ter que reassistir toda a história.

Enquanto não posso falar sobre dificuldades menores, em Zealot, tive que me virar com um pouco de tudo e valorizar os recursos mais básicos. Começando sempre com a Plasma Cutter, o equivalente da pistola, que possui um bom poder de fogo contra inimigos mais básicos devido ao seu feixe de tiro ser triplo, podendo mudar a direção na vertical e horizontal, facilitando o desmembramento dos necromorphs.

O arsenal de Dead Space continua algo bem único, mesmo seguindo alguns padrões básicos de armas como “pistola, escopeta, metralhadora, etc.”, as armas são contextualizadas nesse futuro sci-fi e providenciam coisas que não são exatamente armas, como o próprio Plasma Cutter. Uma das minhas armas favoritas é a Ripper, que arremessa uma serrinha circular em sua frente, o que ajuda a cortar inimigos que não respeitam seu espaço pessoal. 

Há bastante opções, considerando ainda que você pode levar apenas 4 armas, então não pude usar tudo no seu maior potencial. O Pulse Rifle, que seria uma metralhadora comum, só fui comprar lá para o finalzinho do jogo e percebi que subestimei bastante. Com uma frequência alta de disparo, o que facilita acertar a maioria dos inimigos, além de seu alt-fire ser uma granada forte. Até onde testei, todas armas tem suas utilidades e você deve pensar nisso na hora de montar seu kit ideal, mas há inúmeras formas de se divertir com esse arsenal e seus upgrades.

Mesmo com um arsenal completo e os melhores upgrades de arma e armadura, Dead Space 2 ainda é muito tenso. Mesmo chegando naquele território de pura ação, ainda é uma ação de sobrevivência, de saber administrar seus recursos e evitar ser cercado, mas erros são inevitáveis e algumas partes são bem desafiadoras, consumindo toda aquela munição preciosa que você guardou.

As outras duas mecânicas do traje de Isaac são o Stasis e Kinesis. Stasis é capaz de deixar inimigos e elementos do cenário mais lentos, com uso limitado por sua barra que carrega lentamente, ou pode ser recuperada com um item. Já a Kinesis é ilimitada e permite que Isaac use um campo de gravidade para mover objetos, também sendo possível pegar cadáveres e partes de corpos para arremessá-los. Aí que o uso inteligente de elementos do cenário e suas outras opções serão muito úteis.

Stasis é limitado devido sua grande utilidade, especialmente em permitir você se posicionar e acertar os pontos fracos dos inimigos. Usar a kinesis para arremessar objetos pequenos pode atordoar alguns necromorphs normais e matar os menores, enquanto jogar explosivos, estacas e garras de necromorphs mortos pode matar ou causar um bom dano. Kinesis também tem outras utilidades, lembro de ter usado ela para tirar corpos de um cenário, pois sabia que nessa área há um monstro que revive esses cadáveres e cria mais necromorphs.

Entre sessões de combate e exploração, há alguns puzzles simples usando as habilidades de seu traje, também tendo alguns equipamentos eletrônicos que Isaac pode reparar com seu conhecimento de engenheiro, o que é traduzido num minigame simples de rotacionar um círculo e selecionar a opção certa 3 vezes, caso contrário, você leva um choque.

Desses trechos, os meus favoritos são os em gravidade zero, onde os propulsores do traje permitem que você voe e possa navegar pelo mapa de outra forma, normalmente para consertar a nave, ou usar um caminho diferente. Em Dead Space, você mal vê a parte do “Space”, então gosto desses pequenos momentos de “astronauta” pelo silêncio misterioso do espaço, até se deparar com inimigos e começar ouvir barulhos abafados de seus tiros e grunhidos dos seus adversários.

A versão de PC ainda roda bem, apesar de umas verificações online da EA que não servem mais pra muita coisa, visto que o multiplayer está morto. Infelizmente, a minha versão veio com as DLCs, essas sendo armas especiais que podem serem retiradas nas estações de loja a qualquer hora. Não quis usá-las para ter a experiência pura, então elas só ficam no "baú" ocupando espaço mesmo. Pior ainda é o fato que uma DLC de história chamada "Severed", continuação de Dead Space: Extraction, o rail shooter de Wii, não está disponível no PC. Então, é provável que a retrocompatibilidade do XOne é a forma mais completa de jogá-lo.

É a segunda vez que jogo Dead Space 2 e ainda me surpreendo. Algumas mudanças chaves me fazem gostar mais dele do que o antecessor, principalmente pelo protagonista. Isaac Clarke não é aquele tipo de personagem fodão, herói Hollywoodiano, até mesmo seu rosto é de um cara qualquer. É o tipo de cenário ideal para obras de terror.

A mudança de direção para deixá-lo com cenários mais curtos e focando na ação em trechos únicos foi positiva. Acredito que o time da Visceral conseguiu trabalhar melhor com a sequência e essa estrutura linear sem perder a essência de terror brutal do primeiro. Apesar de ser um pouco edgy, era de uma época que os games de alto orçamento se permitiam pisar acima da linha, era até um chamativo, por mais que já fosse meio "datado" em 2011. Acho que esse espírito também se perpetua em algumas partes do jogo, especialmente com a quantidade absurdas de necromorphs crianças e bebês.

O terror da série é bem seco, até mesmo a parte “psicológica” é meio violenta e serve mais para dar alguns sustos. As batalhas são feitas para serem sanguinolentas e desesperadoras, para que você saia com quase nada de vida e munição, e pisoteando o último inimigo enquanto Isaac xinga. Gosto de pensar nessa leva de jogos de Survival horror focados na ação como um subgênero próprio, e que Dead Space 2 é um dos melhores desse estilo.

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