segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Review - Hi-Fi Rush

Aparecendo de surpresa na Xbox Developer Direct, mas não muito, visto que saiu um leak que não mostrava tanto no ano passado. Hi-Fi Rush surgiu como algo bem diferente devido o visual totalmente cartunesco misturado à ação e música. Apesar de ser liberado no mesmo dia do anúncio, estando disponível no Game Pass e custando apenas 30 dólares, ou 100 reais e alguma coisa por aqui, está longe de ser um jogo “pequeno”.

Desenvolvido pela Tango Gameworks, dirigido por John Johanas e produzido por Shinji Mikami, ambos reprisando seus papéis de Evil Within 2, o projeto já estava no forno por um bom tempo, antes da compra da Bethesda pela Microsoft, e veio para mostrar a capacidade do estúdio de trabalhar com algo fora do escopo de terror. Levando em conta a presença de Mikami, conhecidíssimo pelo Survival Horror, mas tendo dirigido jogos de ação memoráveis, como God Hand e Vanquish, obviamente há algo especial.

Fora isso, também temos a presença de Masaaki Yamada, ex-Capcom e ex-Platinum, conhecido por ser o game designer de títulos importantes como Bayonetta e Vanquish, além de diretor de Viewtiful Joe 2 e o de DS. A similaridade visual com Viewtiful e o combate estilo o primeiro Bayonetta mostram que Masaaki continua um nome forte quando se trata de ação. Hi-Fi Rush chegou com os dois pés na porta com esse time e mostra que há espaço para novas interpretações para hack n’ slash estilosos.

O jogador é apresentado a esse mundo futurista, onde um jovem de 25 anos descerebrado que sonha em ser um rockstar é escolhido para receber um braço mecânico através do Projeto Armstrong da mega corporação Vandelay Technologies. Por um pequeno erro, o braço é implementado junto ao "iPod" do protagonista, fazendo que o mundo, ou ao menos na sua perspectiva, esteja sincronizado às suas músicas.

Os robôs seguranças da Vandelay percebem Chai como um “defeito” e querem capturá-lo, mas o rapaz consegue combatê-los com um bastão magnético que forma uma guitarra com peças descartadas. Eventualmente, você conhece Peppermint e 808, uma garota e sua gata robótica, que juntas estão tentando descobrir os podres da Vandelay, e Chai será a chave para isso. Você terá que navegar pelos diversos setores dessa ilha, que é praticamente uma cidade, e enfrentar os chefes de cada setor: produção, P&D, segurança, marketing, financeiro e o presidente da empresa.

Assim como seu visual colorido e cartunesco, a narrativa tem a pegada de um desenho animado. Diria, mais especificamente, algo na onda de filmes animados dos anos 2000. Entre sua história de um grupo lutando contra uma corporação maligna e suas inúmeras piadas de tempos em tempos, Hi-Fi Rush parece meio básico, mas é extremamente efetivo. Chai é o velho arquétipo de protagonista burro e impulsivo que não leva nada a sério, e seus parceiros têm que aguentar suas atitudes inesperadas.

Com um elenco que esbanja carisma, indo dos protagonistas aos chefes, até mesmo os robôs encontrados nas fases, tanto os malignos quanto os diversos trabalhadores explorados pela Vandelay. Entre sequência de combate, platforming e alguns puzzles, você passará um tempo explorando o cenário e encontrando os robôs trabalhando, ou vadiando, bem como logs e outros arquivos trazendo detalhes do mundo.

É algo totalmente “alto astral” e “good vibes”, por mais que possam ser títulos cafonas, são apropriados. A atitude anos 2000 de Hi-Fi Rush poderia ser mero apelo nostálgico, só não é pelo tom genuíno. O que é bem vindo em tempos onde a comédia tende a ser tão auto consciente e referencial. As animações entre lutas, onde Chai e 808 fazem alguma gracinha até surgirem uma nova onda de adversários, a possibilidade de errar os QTEs e ser "recompensado" com cenas engraçadas, até sair no meio de um momento importante da fase e voltar ao esconderijo, faz você ser questionado pelos seus aliados pela decisão. São piadinhas sagazes e sempre adequadas que me pegaram desprevenido.

O conceito principal da jogabilidade é misturar um brawler com jogo de ritmo, sendo traduzido num hack n’ slash onde você pode bater nos inimigos no timing certo para garantir mais dano e pontuação. Para quem é terrível no gênero, pode até parecer bem difícil, mas não é uma necessidade, a não ser que você queira ranking S nas lutas. Elementos do ambiente se mexem ao ritmo da música e servem como um indicador do timing para realizar quando realizar suas ações, o que vai do combate ao platforming.

Já falando dessa parte do visual, a qualidade de animação é no ponto certo em parecer um desenho animado vivo com suas cores sólidas e pouca sombra. As transições entre gameplay e cutscenes, sendo algumas cenas animadas e a maioria em tempo real, são impressionantes, praticamente não há diferença de qualidade. O cenário e personagens se mexem em harmonia a música e tudo é tão bem feito e bonito que incentiva o jogador querer sincronizar seus movimentos.

Há vários incentivos para o jogador aprender o tempo certo, o que mais gosto é o dash, que se feito no timing certo, pode ser feito três vezes e puxa os coletáveis próximos ao personagem. Devido a presença de muitos efeitos e bonecos na tela, alguns trechos da ação podem ser meio confusos, apesar do jogo telegrafar muitos ataques com som, além de todos inimigos atacarem junto da batida. Fora da ação, você pode perceber que até Chai se move ao ritmo da música, e quando parado, fica estralando os dedos. 

Você pode ativar uma barra que mostra o timing certo, mas acho que aprender instintivamente é melhor, ainda mais por haver sessões focadas apenas no parry, onde o inimigo telegrafa o ritmo do seu ataque e é achei mais fácil prestar atenção no som. Enquanto não posso avaliar adequadamente essa parte de jogo de ritmo pela falta de experiência com o gênero, estou no post game e lentamente aprendendo a acertar o timing, mesmo sendo difícil conseguir um S rank nesse quesito, onde é necessário acertar 85% ou mais do “just timing”.

Toda batalha é avaliada individualmente e seu ranking final da fase é a soma dos encontros e punições por quantos continues foram usados, algo similar a Bayonetta. Os critérios para ranking são pontuação (baseada no contador de combo e outras ações), tempo e o just timing, se você “bateu na batida” certa. Esse critério é avaliado na porcentagem de vezes que você atacou e quantas foram no ritmo, então aprendi que sair desenfreado nos combos não é a melhor solução, sendo o ideal acertar os combos no ritmo, evitar ser atacado e usar seus demais recursos.

Você possui suportes, personagens que surgem em meio a ação para desferir um golpe. Inicialmente, temos apenas a Peppermint, que surge dando tiros e consegue quebrar barreiras elétricas, servindo não apenas no combate, como durante a exploração. Cada um tem sua função, indo de desabilitar barreiras, quebrar escudos ou apagar fogo, o que poderia ser chato devido ao cooldown após chamar o suporte, só que a recarga deles é bem rápida.

Chai possui uma variedade de combos que podem ser comprados durante a campanha. Você tem ataques fracos e fortes, fracos sendo rápidos, podendo serem feitos consecutivamente no tempo da batida, enquanto fortes são mais lentos e levam duas batidas para executá-los em timing certo. Os combos geralmente acabam num golpe final com um círculo chamado “Beat Hit”, similar a Oendan/Osu/Elite Beat Agents. Cada combo termina com um Beat Hit diferente, sendo ataques poderosos e com áreas de efeitos diferentes, podendo ser explosões ao seu redor, ou um tiro de laser na sua frente.

Por fim, existe uma barra de “reverb”, permitindo o uso de especiais através da coleta de baterias que estão espalhadas pelo cenário, ou após que caírem ao destruir os robôs adversários. Há uma gama de ataques especiais, cada um gasta um número de barras de reverb e tem efeitos diversos, alguns adicionando um multiplicador na sua pontuação. O reverb também pode ser usado no final de um combo ao chamar um suporte e ele desferir um golpe único.

Hi-Fi Rush permite algum nível de customização com isso e os chips, onde você tem até 4 espaços para modificadores que vão de diminuir o cooldown dos suportes, até ter chance do parry dropar item de cura. Porém, essa parte é meio limitada pela pequena quantidade de chips e o fato de você poder realizar melhorias em alguns chips, mas fazendo eles ocuparem mais espaços. A customização mais ampla ocorre na parte estética, só que apenas após finalizar a campanha e liberar o conteúdo post-game.

Devido a proposta musical, o jogo não é exatamente o mais frenético possível, mas o combate tem um ritmo excelente. Você pode cancelar golpes num parry e dodge, permitindo que você não perca o fluir da luta, o que é auxiliado pela excelente trilha sonora e o coro de fundo gritando “Chai” ao você sair bem. Apesar que a barra de estilo no canto superior direito poderia ser mais apurada ao mostrar seus resultados na luta, já que você só sabe se se saiu bem ao terminar um confronto.

A única coisa que achei bem deslocada é a falta de um lock-on, pois você pode errar alguns golpes. Dá sempre para se posicionar e aproximar dos robôs devido ao seu grapling hook, mas já errei alguns ataques por questão de uns passos do inimigo. Acontece mais nos especiais, “especialmente” nos que afetam uma área menor.

Por fim, resta falar da música. A sensacional trilha sonora tem nomes famosos como Nine-Inch Nails e Prodigy, enquanto as músicas originais são de uma banda chamada Glass Pyramids e os compositores REO, Masatoshi Yanagi e Shuichi Kobori. Com um foco em músicas mais agitadas, com estilo rock e algum eletrônico aqui ali, fora outros gêneros para representar os diversos chefes e áreas mais únicas da ilha. Há até um modo streamer que substitui as faixas licenciadas e impeçam os temidos strikes de direitos autorais e, honestamente, acho a maioria das músicas originais melhores. Mas seja lá o que você estiver ouvindo, vão ser momentos memoráveis para o que é uma inesperada surpresa para o começo de 2023, mesmo tendo a cara de um clássico cult dos anos 2000.

Não gosto de levar em conta preço na hora de analisar, mas apesar da campanha ser umas 10 horas no máximo, existe um post-game bem justo, com roupas desbloqueáveis e sessões novas nas fases, além da Rhythm Tower, uma espécie de Bloody Palace, e uma dificuldade extra chamada Rhythm Master, onde os inimigos são mais difíceis e cair abaixo do ranking C é morte na hora. A misturanga de hack n’ slash com jogo de ritmo, cara de animação 2D, mesmo sendo 3D, e botando muito “anime 3D” no chinelo, junto de puzzles, platforming, coletáveis, estrutura de rankeamento de fases e entre outros, mostra que Hi-Fi Rush faz um pouco de tudo e faz tudo muito bem.

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