quinta-feira, 7 de março de 2024

Tekken 8 - O Bom e Velho Tekken

Entre as diversas franquias de jogos de luta no mercado, acredito que Tekken é a mais consistente. Por mais que haja alguns altos e baixos, desde 1995 existe algum Tekken nos consoles da geração e são jogos bons, no geral. O penúltimo título da série, Tekken 7, foi um novo ápice para o Rei do Punho de Ferro, pois foi onde ocorreu uma nova era para a série, se você viu Tekken 5, 6, Tag Team 2 e Revolution, eram basicamente jogos com a mesma base e modelos de personagens, e não era à toa que Tag 2 tinha tanto conteúdo.

O que Tekken 7 chegou com uma cara nova, foi a estreia da série no PC e trouxe um novo apelo competitivo global. Se você acompanhou os campeonatos de Tekken 7, sabe que há diversas histórias e momentos memoráveis, logo, a sequência dele era esperadíssima. Certamente, eu não queria ser Tekken 8, é um jogo cheio de responsabilidades e expectativas, e fora toda parte competitiva, ele é o primeiro jogo grande da série a não sair nos arcades, o que poderia ser um sinal de que sua primeira versão faltaria refinamento.

Outro fardo carregado por Tekken 8 é ser uma espécie de conclusão a um arco de história. Por mais que jogos de luta não tenham histórias incríveis e nem ao menos consistentes, e não se engane, Tekken também carrega essa culpa, há sempre algo interessante na narrativa, principalmente ao manter uma linha cronológica contínua, e dá ao menos pra se divertir com os finais palhaçadas, as lutinhas finais que são nível anime Shounen de porrada e outras bizarrices.

No título anterior, o foco era o embate entre Heihachi Mishima e Kazuya Mishima, onde Heihachi perde e é morto, levando ao conflito entre Jin Kazama e Kazuya, ou seja, mais uma luta entre pai e filho, e ambos portadores de um sangue demoníaco. Enquanto Kazuya abraça esse poder e utilizá-o para tentar dominar o mundo, Jin vive lutando contra seu capeta interior e quer parar os planos vilanescos de seu pai.


Como dito, não é uma história incrível, mas é bom ver uma franquia de 30 anos ter uma espécie de conclusão de sua saga, ainda mais sendo alguém que começou a jogar a série em Tekken 3, onde Jin foi introduzido. A relação entre esse personagem e seu pai sempre foi meio nebulosa, uma que Kazuya estava “morto” na época, outra que não se sabe como Kazuya conheceu Jun e os dois tiveram um relacionamento para Jin nascer. 

Kazuya é representado como um cara frio e vingativo, então era difícil imaginar ele com a mocinha do bem como a Jun, e Tekken 8 ainda não fala nada sobre esse aspecto, então vamos continuar sem saber. O foco é mais no Jin, principalmente a parte dele aprendendo a dominar o “Devil Gene” de seu sangue e conseguindo arrumar forças para derrotar seu pai. Em meio disso, Kazuya, sem ter uma força opositora, praticamente já domina o mundo e anuncia um novo torneio mundial entre os melhores lutadores de cada região, prometendo eliminar o país de cada perdedor.

Como sempre, jogos de luta tem uma porrada de bonecos e nem todos vão ser relevantes, já que alguns são puramente alívio cômico e outros nem fazem parte da história principal. O jogo ainda não se acerta em unir todo elenco em uma trama sucinta, mas boa parte deles tem algum destaque durante a campanha. O importante vai ser a luta do Jin contra Kazuya, e se você jogou as lutas finais de Tekken 7, diria que o nível dos confrontos é tão bom quanto, senão melhor. No geral, é um modo história legal o bastante pra valer investir o tempo. 

Incluíram um modo de luta contra multidões, que é meio escroto por ser numa perspectiva meio de cima, ter uma porrada de inimigos, e você ainda fica dentro de um plano “2D” contra um inimigo que seu personagem está em lock-on. Não é apenas estranho, como é um inferno lidar com uma tantos adversários, especialmente na maior dificuldade, mas fora isso, as lutas tradicionais são legais, somado do espetáculo visual proporcionado pelos cenários, efeitos e gráficos, além dos momentos de slow motion com diálogos entre os lutadores.

Fora o clássico arcade mode com 8 lutas, cada personagem possui um mini story mode para você ver um final único, a maioria sendo uma bobeirinha, e parte do fator legal era o gráfico, que eram CGs pré-renderizadas, agora é tão avançado que há pouca distinção entre os filminhos e o in-game. Voltando às raízes, o jogo trouxe de volta o Tekken Ball, que coloca os personagens em uma praia e usando golpes numa bola.

No geral, não diria que Tekken 8 é o melhor pacote de conteúdo single player atualmente, há o básico e mais um pouco, mas não sou tão entusiasta em Tekken Ball e preferiria que tentassem mais algum Tekken Force da vida, já que há uma base do gameplay com o conteúdo do modo história que mencionei. Até tentaram adicionar mais ago com o novo modo chamado de “Arcade Quest”, uma campanha onde você cria um avatarzinho com um estilo de arte meio SD, e sai numa jornada ao competir com outras pessoinhas em Tekken 8 nos arcades. 

Similar ao World Tour de Street Fighter 6, o Arcade Quest é algo mais casual, servindo como um tutorial e uma forma de iniciação à jogabilidade de Tekken, junto de uma historinha onde seu boneco pode virar o campeão de Tekken 8 pelas regiões. Sendo justo, não joguei o bastante para saber o que rola, mas pela uma hora que experimentei e fui fazendo os tutoriais, a narrativa é bem boba e a forma que vão te ensinando é muito lenta, ao menos para mim, que já sabia boa parte dos fundamentos por Tekken 7, esse que nem tinha um tutorial, logo utilizei a internet para aprender.

Esse mundinho e os bonecos customizáveis são reutilizados nos lobbies, que ao menos não é obrigatório para jogar online, mas é uma alternativa legal para apresentar esse ambiente de fliperama e interagir com outros jogadores com seu avatarzinho. Ainda assim, acho os avatares bem genéricos, se ao menos o estilo de arte fosse mais interessante, daria pra passar, ao menos há um considerável número de itens para customizá-los.

Por um outro lado, a customização do elenco do jogo em si é bem limitada. Todos os personagens têm roupas exclusivas e algumas opções do que colocar em suas partes do corpo e mais acessórios. De primeira, parece uma gama enorme, só que logo logo dá pra ver que não dá pra mudar coisas básicas, como botar um chapéu não permite que mude o cabelo padrão, ou como as mulheres não possuem certas roupas dos homens, por exemplo, não há um gi, kimono tradicional de karate, para elas. Levando em conta que boa parte da customização é "portada de Tekken 7, só que com coisas a menos e os mesmos defeitos.

No final das contas, ainda dá pra fazer seu cospobre e sua versão única para seus personagens favoritos, e é por isso que é um dos aspectos que mais gosto em Tekken, acho justo ser mais crítico com isso e esperar que essas coisas sejam melhoradas, especialmente sem precisar arrancar dinheiro do jogador. É claro que mais conteúdo pode remediar, mas se já pudessem mudar coisas que estão lá e fornecer mais alternativas com as roupas atuais e menos limitações seria uma boa melhoria.

Indo para jogabilidade, Tekken é um jogo que é fácil de jogar, difícil de dominar, então mesmo que não haja tanta coisa no single player, o apelo da série continua em ser bem simples de pegar qualquer boneco e sair na porrada. Dentro das ferramentas para iniciantes, além dos tutoriais, existe uma opção de “assist” para o jogador poder mandar golpes mais complexos e combos com apenas um botão, não é o ideal para aprender, mas é uma facilidade, certamente me ajudou em momentos do modo história.

A parte difícil vem da cerne de Tekken, onde entre o conhecimento importante, entre entender as mecânicas, saber executar combos e etc. É saber dos golpes de seu e outros personagens, sendo que são 32 personagens nesse jogo que possuem movelists gigantes, então para entender a jogabilidade e melhorar em Tekken é um processo lento e sofrido.

Obviamente, você não precisa saber de TUDO. O fundamental da jogabilidade é que você controla um boneco em um espaço 3D, o movimento é meio lento e ficar parado defende golpes médios e altos, então golpes baixos são importantes para quebrar a defesa, junto de outras ferramentas como agarrões. Todo elenco tem padrões universais, mas alguns personagens possuem suas peculiaridades, aí vêm a parte que é mais difícil de aprender.

As movelists são extensas, mas você precisa saber mais ou menos um ou dois combos, o importante é saber golpes que servem para situações diversas, saber os pokes para ficar cutucando o inimigo, os lows para acertar baixo, dentre outros. Claro que essa é a parte ofensiva, aprender a se defender já trás um conhecimento mais abrangente, saber em que momento da string do adversário você pode se abaixar, ir para os lados, contra atacar e etc.

Até coisas como as opções de se levantar são vitais, que tem que levar em consideração se o boneco caiu com a cara para cima ou para baixo, pois existem golpes únicos para essas poses, então até levantar após ser derrubado é uma questão complexa. De novo, você não precisa saber de TUDO, mas é visível que essa parte de conhecimento do sistema e matchups em Tekken costuma ser bem mais importante do que em outros jogos, ainda mais sendo uma franquia que a base de jogabilidade não mudou drasticamente com os anos.

Tekken 8 disponibiliza um modo de dicas ao assistir replays que podem ajudar a entender melhor como punir seu adversário. Infelizmente, as dicas são um pouco escassas, geralmente se limitando a mostrar o comando para quebrar agarrões e se abaixar em meio a uma string do oponente, a parte de dar sidestep para poder punir certos golpes seria bem apreciada, fora outras explicações. Ainda assim, é um bom passo para ferramentas de ensinamento para facilitar o aprendizado dos jogadores.

A maior mudança no jogo é a mecânica de Heat, onde todo elenco tem acesso a uma barra cheia desde o começo de todo round, você pode “estourar” ela, ou entrar no heat após certos golpes. Entrando no Heat, cada personagem tem propriedades únicas, a possibilidade de estender seus combos, ou simplesmente mandar um especial, chamado Heat Smash, que consome a barra toda. 

A mecânica de Rage continua, quando sua vida fica baixa, o personagem entra em Rage, dando mais dano nos golpes e tendo acesso ao Rage Art, um especial cinemático e com armadura, feito justamente como uma ferramenta de virada, ou para espremer o máximo de dano num combo. Somado a isso, Tekken 8 tem chip damage e um porção branca de dano na barra de vida, essa parte branca pode ser recuperada ao atacar o inimigo. 

Os novos sistemas incentivam um estilo mais agressivo, e somado ao fato que já é um jogo cheio de golpes que não são fáceis de reagir, a parte defensiva mais difícil. Pode ter casos onde rounds acabam rápido e com perfects somente por que um dos jogadores fez duas ou três decisões corretas e o adversário não sabia como defender ou desviar. Fora que os cenários são muito mais pequenos nesse jogo que os anteriores e não há uma arena infinita, apesar de haver duas bem grandes, e a pressão contra a parede pode ser absurda.

Não dá pra saber se essa parte pode mudar, se as DLCs vão ser boas (já dá pra saber que vão ser custosas, mas aí é padrão Bandai Namco) e se o balanceamento vai melhorar, principalmente sabendo dos traumas de guerra em Tekken 7, onde Leroys e Kunimitsus dominaram torneios. Mas, como jogador intermediário, daqueles bem marromenos, acho que Tekken 8 trouxe mudanças interessantes no sistema de combate, o que dá novos ares ao padrão da franquia, no qual eu acho bom.

Assim como o recente Street Fighter 6, é bom ver que os desenvolvedores capricharam tanto na primeira versão do jogo e os recursos online estão a par com o padrão online com os jogos de luta, apesar do netcode ainda precisar de um refinamento, especialmente quando se trata de jogar contra alguém com wi-fi. Se Tekken 8 terá um ótimo caminho pela frente, não posso dizer, se ele é mais um excelente passo no que chamei de série mais consistente de jogos de luta? Você pode ter certeza.

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