sexta-feira, 22 de março de 2024

MadWorld - O Playground Sanguinolento do Wii


Em meio a títulos “family-friendly” e franquias da Nintendo, o Wii recebeu alguns jogos diferenciados que procuravam ir contra a maré casual e amigável que dominava o console, isso sem deixar de usar os controles de movimento. MadWorld é um desses títulos e é um tanto esquecido em pleno 2024, tendo no máximo uma sequência/reboot com Mad Anarchy e eventualmente a desenvolvedora lembra do seu aniversário.

Ele foi lançado em março de 2009, sendo não apenas o primeiro jogo da Platinum, como o seu primeiro fracasso. Quando um jogo lançado vai contra o “status quo” de sua época ou ambiente, ele pode se tornar um precursor de uma nova onda, como Demon’s Souls, ou ser uma falha comercial, é sempre um risco e há tantos casos de sucesso quanto de fracassos, ao menos esse apelo nichado pode gerar um clássico cult. 

A PlatinumGames é formada por desenvolvedores japoneses que procuravam se desvencilhar das amarras de estúdios grandes e fazerem jogos de seu jeito. E para quem já viu diversas falhas de Kickstarter e arremedos, sabe que nem tudo são flores na hora desses desenvolvedores conseguirem independência, e mesmo sendo uma empresa queridinha, até hoje ela passa por poucas e boas.

MadWorld é um jogo mega estilizado que usa controles de movimento. O visual é inspirado em Sin City, a HQ do Frank Miller, com tudo sendo preto e branco, menos o sangue vermelho e alguns elementos amarelos. A violência é o tema principal, a sanguinolência é gloriosa e você usa o WiiMote e Nunchuk para controlar o personagem e fazer as execuções. O clima é um tanto cínico e apático, também sendo um pouco engraçaralho para equilibrar.. Por mais que haja uma narrativa meio “séria”, há diversos elementos cômicos e absurdos..

A trama principal trata de Jefferson Island, uma cidade isolada do mundo após um ataque de terroristas, tornando-se o palco do DeathWatch, uma competição televisionada com matanças brutais. O protagonista, Jack, aparece misteriosamente na ilha e se prova um exímio matador, só que com algum objetivo maior dentro do DeathWatch, que envolve mais do que o puro espetáculo brutal.

Jack é o pilar principal de como a história se desenvolve e ele é um personagem que tem um objetivo maior, mas ainda está dentro do DeathWatch para liberar seu sadismo. Há algum tipo de mensagem, mas não é um sermãozinho, não faz sentido ser, e não é nem uma lição de moral para o jogador e nem para o protagonista. Mesmo Jack sendo um maníaco, ele demonstra consciência que seus atos são ruins e abomináveis, porém são parte desse mundo louco (heh).

O escritor de MadWorld é Yasumi Matsuno, que trabalhou como roteirista em Final Fantasy Tactics, Tactics Ogre e Vagrant Story. É um cara de RPGs, e conflitos políticos, imagino, se tivesse jogado qualquer um desses jogos, mas já ouvi falar bastante de como as pessoas gostam dessas histórias. Lembrando que MadWorld é de 2009, uma época diferente nos videogames, um mundo onde God of War, Gears of War e outros “playgrounds” de violência não eram só comuns, eles estavam entre os jogos mais populares e a brutalidade era parte do chamativo.

Falando assim, até parece que a narrativa é mega séria, mas boa parte do clima do jogo é descontraído. No final das contas, a jogabilidade ainda se resume em fazer atrocidades com seus inimigos, tudo isso ao som de hip hop agitado e a narração de uma dupla de paspalhos, um deles sendo dublado por John DiMaggio, fazendo a mesma voz do Jake The Dog de Adventure Time. 

Todos aspectos da apresentação de MadWorld estão no ponto. Certamente, é um jogo que chama atenção só pelo estilo e a estética botava muita coisa do Wii no chinelo e até nos outros consoles da época. À primeira vista, pode parecer meio confuso em tudo ser preto e branco, mas eventualmente dá para ver como a “coloração” é bem feita e você consegue ver a forma de tudo e como cada um dos cenários são muito bonitos.

Diferente de boa parte do catálogo da Platinum, ele tem uma jogabilidade bem simplificada, claro que ele foi pensado para ser mais de boa devido aos controles de movimento e poder chegar na audiência casual do Wii. Mecanicamente, é um beat ‘em up, só que o foco é menos na briga e mais nas execuções e seu sistema de pontuação, o que dá uma vibe meio de party game.

Quanto ao combate, você tem um o básico de socos e golpes com motosserra que consomem uma barra que vai se recarregando, a maioria dos inimigos são fracos e o objetivo maior é usá-los com os elementos interativos do cenário, como empalá-lo com uma placa de trânsito e depois jogá-lo contra uma parede de espinhos. Quanto maior for a atrocidade cometida, maior é sua pontuação, então é um playground sádico estilo arcade.

Enquanto não vejo muito problema na parte de jogabilidade de ação, por mais que seja muito simples, ficar procurando elementos no cenário para matar os inimigos acaba se tornando repetitivo, ainda mais por esses elementos se repetirem. Boa parte dessas execuções e os minigames em geral se resumem a arremessar os adversários, então por mais que haja uma criatividade e as animações sejam boas, falta uma variedade mecânica.

Conseguir os pontos é o que vai liberando armas e objetivos da fase, um deles é o Bloodbath Challenge, um minigame exclusivo para cada cenário, apresentado pelo campeão do último DeathWatch, o Black Baron, ao lado de sua assistente Mathilda, que sempre mata ele durante a apresentação. Os minigames são coisas como “jogue os inimigos na turbina de um avião”, ou “use um taco de golfe para arremessá-los contra os aros para ganhar mais pontos”. Mais uma vez, é divertido, mas enjoa e, em tese, são muito similares.

O jogo é estruturado em fases, separadas em distritos da Jefferson Island e a maioria tem temáticas. Como já dito, esteticamente, é incrível, mas também vale ressaltar a música. Naoto Tanaka compôs as parte das faixas e entregou para diversos artistas independentes para terminarem. Muitos desses artistas  mal são encontrados na internet hoje em dia, o que é uma pena, pois esse pessoal criou uma trilha sonora fantástica. Se você pode ter uma certeza durante a campanha, é que cada fase vai ter uma música melhor que a outra, com letras e um ritmo chiclete que vai te deixar cantarolando. 

MadWorld é praticamente incrível em tudo, menos quando se trata de jogá-lo. O problema seria mais nesse sistema de matança e pontuação, a jogabilidade em si é só basicona, e tirando algum chefe aqui e ali, ele é fácil demais, isso até você experimentar o modo hard. Após terminar a campanha, a dificuldade difícil faz os inimigos serem mais reativos e agressivos, então vira algo mais similar a um beat 'em up padrão. Honestamente, o Hard tinha que estar habilitado desde o início, mas vale a pena rejogá-lo para descobrir mais coisas pelos cenários nas revisitas.

Joguei ele no emulador Dolphin, configurando as ações de movimento para botões do joystick. É meio chatinho deixar tudo nos conformes, mas quase se torna um “jogo normal” e funcional. Até o momento, o jogo parece que foi esquecido nos porões da Platinum, ou talvez os direitos estejam com a Sega, como foi o caso de Vanquish e Bayonetta. Não há sinal de interesse em relançar esse projeto, talvez pela falha comercial dele e Anarchy Reigns, ou talvez sejam por alguns diálogos que podem ser considerados bem ofensivos hoje em dia, fora o clima não ser algo nos padrões atuais da Sega ou da Platinum.

Ao mesmo tempo que há esse aspecto da violência, também é curioso ver isso partindo de desenvolvedores japoneses, onde poucos dos seus jogos “mainstream” são tão violentos e de uma forma tão crua e sádica. Acredito que tenha sido uma tentativa de emular o estilo ocidental da época com uma pegada única. Infelizmente, não deu muito certo comercialmente, e por mais que ainda haja diversos probleminhas ao todo, temos que certificar que, por mais que MadWorld seja abandonado, ele jamais deve ser esquecido.

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