Escrito pelo Findman
Depois da tragédia que foi
Vingadores, a Square Enix alguns meses depois anunciou um novo jogo da Marvel,
dessa vez os Guardiões da Galáxia sendo desenvolvido pela Eidos-Montréal, a
mesma equipe responsável pelos últimos jogos da franquia Deux Ex. Um desafio
grande para o estúdio por lidar com uma propriedade nova para eles e
completamente diferente.
O jogo se passa alguns anos após
uma grande guerra que deixou toda à galáxia em um estado perfeito para
mercenários e exploradores. Nesse cenário encontramos os conhecidos Guardiões
da Galáxia em sua formação já clássica com Peter Quill, Gamora, Drax, Groot e
Rocket Raccon. A decisão de não fazer uma história de origem é o primeiro
acerto do roteiro por evitar de contar algo que já conhecemos e vermos a relação
entre os personagens bem estabelecida mesmo que seja o início dela. O ponto
negativo é a dublagem americana que é bem canastrona e por algumas vezes
estraga um texto bem escrito, felizmente o jogo vem com dublagem em português e
essa sim de excelente qualidade que talvez por ter trazido veteranos em interpretar
os personagens eles já demonstram estarem bem confortáveis nos papeis e
assimilam melhor as características principais da equipe seja o sarcasmo do
Peter ou a rigidez do Drax e além disso os dubladores brasileiros parecem ser
melhores atores que os americanos.
Guardians of the Galaxy visto de
uma maneira superficial aparenta ser um jogo de aventura simples que não toma
grandes riscos, mas isso não é verdade, a primeira decisão arriscada parte
justamente da história. O ritmo completamente cadenciado que não tem pressa
nenhuma em apresentar de maneira rápida as seções de ação e aposta em grandes momentos
de diálogos e interações entre os membros da equipe o que certamente irá irritar
os mais impacientes. E ir por esse caminho requer coragem. Como fazer algo
assim sem arruinar o ritmo da história? Certamente a confiança do estúdio na
equipe de roteiristas foi grande e felizmente essa confiança deu frutos,
Guardiões da Galáxia é um exemplo de jogo bem escrito, os diálogos são sempre
certeiros e a interação entre os guardiões é muito bem fluída e torna-se
impressionante devido as extensas linhas de diálogos que não se repetiram uma
única vez durante as quase 20 horas de gameplay que levei até zerar.
A história geral serve como um
pano de fundo para os mercenários serem jogados para a ação e servir como
justificativa para eles irem do ponto A ao ponto B e felizmente isso funciona
muito bem, as situações que eles enfrentam despertam interesse pelo contexto
criado, pelo riquíssimo universo estabelecido e também pelos outros personagens
que ganham destaque na trama sejam eles amigáveis ou não e os vilões da trama
são realmente intimidadores o que prova o sucesso absoluto de toda a trama que
é construída de maneira inteligente e bem fluída sem parecer que estamos jogando
algo episódico. Tudo flui com naturalidade.
Peter Quill é o protagonista
absoluto do jogo, explorar seu passado na terra adiciona uma bem-vinda carga
emocional na história dando estofo ao personagem pra ser o principal
e o coração de todo o jogo. O sistema de diálogos que poderia ser o ponto
falho no jogo é bem executado por ter consequências plausíveis no jogo
alterando o curso do game, uma decisão pode fazer você seguir um caminho
pacífico até um objetivo ou enfrentar hordas de inimigos, pode fazer você
receber créditos por um trabalho ou receber nada por isso, e as decisões que
você toma afeta seu relacionamento com os outros personagens, alguns deles
podem ou não gostar de suas respostas. Na realidade esse sistema de diálogos é
algo complexo executado de uma maneira bem simples. O que é algo bem difícil de
se alcançar com tamanha competência.
Starlord é o único personagem
jogável o que é mais uma decisão corajosa que os desenvolvedores tomaram e
felizmente se provou outro acerto. Quando imaginamos um jogo dos guardiões da
galáxia pensamos em um jogo Coop com todos os membros da equipe sendo jogáveis,
mas o caso aqui é diferente, Guardiões da Galáxia é um jogo single player
focado em sua narrativa aventuresca a lá Uncharted e as set pieces de ação não
fariam feio se estivesse em alguns dos jogos de Nathan Drake, não que os outros
guardiões não estejam ligados a gameplay em si, você pode ordenar ataques
específicos para cada um deles e que pode gerar uma combinação de ataques: Você
pode mandar o Groot prender um inimigo e depois o comandar o Rocket a explodir
esse inimigo ou partir para a brutalidade e usar a arma gravitacional de Rocket
para prender todos os inimigos do cenários e usar as habilidades especiais dos
demais Guardiões para causar o máximo de dano possível. São inúmeras as
estratégias que você pode usar e isso torna o combate muito mais dinâmico e
aberto a possibilidades que deixa as seções de combate bem ricas.
Os combates geralmente ocorrem em
ambientes não muito abertos e o jogo explora os combates a média distância por
causa das pistolas de Peter Quill. Poderia ser uma combinação perigosa mas se
torna boa pela verticalidade das batalhas, pelas habilidades especiais que o
Peter possuí e também pelo próprio comportamento dos outros Guardiões que são
bem inteligentes e de fato ajudam o jogador derrotando inimigos sem se exporem
o suficiente para não caírem toda hora, também nos ajudando quando estamos
cercados de inimigos.
O jogo na versão do Playstation 5 usa muito bem os
recursos do Dual Sense dando uma camada extra de imersão no jogo com os
sensores do controle. Uma pena, portanto, o jogo não ter muitos combos e o
sistema de upgrades ser bem limitado parecendo que a Eidos foi forçada a
colocar isso de última hora. Durante a gameplay presenciei apenas um bug
comprometedor onde os controles congelaram e tive que reiniciar a partir do
último checkpoint, felizmente foi reiniciado na mesma área. Na versão do PS5 o
jogo corre a 60 FPS sem oscilações isso jogando no modo performance, no modo de
qualidade o jogo roda a 30 FPS e com engasgadas, não vale a pena jogar nesse
modo pois as melhoras visuais são ínfimas e adicionar um modo de jogo desses
vem sendo uma das coisas mais constrangedoras que a indústria vem fazendo nos
últimos anos.
Visualmente o jogo é arrebatador,
não cometendo o erro do jogo dos Vingadores, onde os personagens eram imitações
pálidas das versões do MCU além de serem tecnicamente mal feitos. A Eidos fez
um jogo cheio de personalidade não se limitando por outras obras da equipe. Mesmo usando inspirações tanto estéticas quanto na história, os mundos que
visitamos são lindos e bem variados e tudo bem colorido e com flertes com
visuais Cyberpunk, principalmente em Knowhere City, onde predomina tonalidades
escuras e um ambiente decadente com muitas máquinas e construções danificadas. A trilha sonora inclui hits dos anos 80 além de músicas também não tão
conhecidas e atrelado a trilha sonora está a origem do nome Starlord que não vou comentar nada a respeito mas é
simplesmente incrível.
A direção de arte espetacular é
auxiliada pelos belos gráficos. Mesmo não sendo um jogo de nova geração, as
texturas são de alta qualidade especialmente em relação aos personagens e o
sistema de iluminação é excelente. Ver o sol refletindo nas rochas cor de rosa
na zona de quarentena (onde inicia-se o jogo) é realmente bonito. Em muitos
momentos você vai querer parar apenas para apreciar a paisagem.
Guardiões da Galáxia é competente
em tudo que faz e entrega um jogo divertido e com coração. Espero que a justa
má fama de Avengers não manche essa trajetória e que seja o início de uma
promissora franquia. O primeiro passo foi excelente.
NOTA: 8
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