sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Review - Paranormasight: The Seven Misteries of Honjo

Em meio a um ano com tantos lançamentos bombásticos, muita coisa vai passar despercebida, e esse foi meu caso com Paranormasight, uma visual novel adventure de terror desenvolvida pela Square Enix. Eles costumam lançar alguns títulos menores na surdina há alguns anos, uns recebem destaque, nem que seja um trailer numa Nintendo Direct, o que esse jogo foi, mas apenas numa Direct japonesa.

Paranormasight foi lançado em março para Switch, PC e celulares, é um jogo que  toma em cerca de umas 10 horas para terminar. Não é lá um título de maior orçamento, o que é padrão do gênero, que costuma ter jogos mais “humildes”. Ele é co-desenvolvido pela Xeen Inc., uma pequena empresa que trabalha em ports e ajuda em desenvolvimentos de jogos maiores.

Não há nenhum nome muito grande nos créditos, mas reconheci o estilo de arte dos personagens, esse sendo o de Gen Kobayashi, que também trabalhou em ambos The World Ends With You. O roteirista e diretor principal é Takanari Ishiyama, sendo seu primeiro jogo sendo lançado fora do Japão. Mesmo com essas limitações orçamentárias, é um jogo bem “vistoso”.

O design de personagens é bem bonito, os cenários parecem fotografias e há um efeito de TV de tubo, efeito de aberração cromática e outras coisas para ambientar o jogador nesse Japão nos anos 80 sobrenatural. Os cenários são mais interessantes devido tudo ser 2D, mas você geralmente pode mexer a câmera em 360º, o que dá um efeito maneiro e funciona bem nesse estilo terror, já que olhar para o lado pode trazer surpresas assustadoras, ou até mesmo avistar figuras sombrias no cantinho da sua visão.

Mesmo com o estilo simplório de visual novel e ser mais "parado", há uma vibe de terror legal. A proposta não é exatamente a das mais novas, mas há um atrativo grande para mim, já que é uma narrativa ramificada onde o jogador pode “voltar no tempo” e tomar outras decisões. Um senhor misterioso chamado de “Storyteller”, conversa diretamente com você e abre a possibilidade de alterar o destino dessa história.

O jogo se passa durante os anos de 1980 no distrito/cidade de Sumida, onde começam a rolar boatos sobrenaturais em relação aos “Sete Mistérios de Honjo”. Essas lendas, que são mais de sete, datam de mais de centenas de anos, coisa do período de Edo, e são superstições do mundo real. A primeira lenda que é apresentada é a do “Whispering Canal”, o canal sussurrante, onde pescadores desaparecem após ouvir um sussurro no canal d'água onde pescam.

Junto de cada lenda, há uma história. A do canal fala de uma menina que procurou seus pais após eles desaparecerem de casa, essa menina aparece como um espírito por trás de uma pedra amaldiçoada. Então começa a ideia principal de Paranormasight, onde em uma noite, começa um período misterioso onde os personagens portam essas pedras amaldiçoadas e ao matarem outras pessoas com a maldição, eles ganham “resíduos de alma”, e enchendo a pedra de resíduos, eles podem fazer o rito de ressurreição.



Você tem todo o elenco da história, alguns que querem realizar o ritual, outros querem impedir e outros estão ali pelo acaso. O jogador tem essa perspectiva externa que pode interferir ao fazer escolhas e ações únicas que ajudam os personagens em suas jornadas. O conhecimento é uma das partes mais importantes, fazendo que ao saber que acontecimento ou coisa x funciona de um jeito, você leva essa informação para outra “linha do tempo”.

O principal mistério vêm das pedras amaldiçoadas, pois os personagens vão encontrando pessoas sem saber se elas são ou não portadores de uma maldição e quais são as condições para ativar elas. Por exemplo, a maldição do canal sussurrante só é ativada quando alguém “deixa” o portador, o primeiro protagonista controlável tem ela e, para usá-la, você tem que arrumar um jeito de alguém ir embora.

Aí que cai um dilema, visto que, dependendo do jogador, você não vai querer matar certos personagens, ou se sente obrigado a matar, mesmo que não goste das consequências. Muitas vezes, parece que você não tem o controle das ações e pode apenas sugerir o que o protagonista pode fazer. É uma quebra de quarta parede implementada dentro do plot, por mais que seja limitada, acho que funciona de uma forma fascinante.

Há uma seção de arquivos no menu de pause onde você tem as informações mais importantes em relação às lendas, a cidade, cultura e dos personagens, para ajudar o jogador a não esquecer de detalhes que serão importantes. Mas Paranormasight consegue testar não apenas sua suposta memória, visto que há algumas problemas que dependem de você entender sua posição como jogador para solucionar.

Visual Novels costumam ser simples, mas é bom quando existem alguns elementos de jogabilidade para dar uma misturada, fora não haver paredes de texto para facilitar a leitura. E como já dito, ele é consideravelmente curto, onde é possível chegar no final secreto com em torno de umas 12 horas, o que pode deixar ainda mais salgado o preço de 90 reais, ou mais no Switch, mas é inevitável para títulos da Square.

Falando em final secreto, acho que essa foi a parte mais decepcionante do pacote, pois esse final traz algumas resoluções esperadas, mas acaba deixando de lado a perspectiva de um personagem importante. Então fica aquela cara de assunto mal resolvido, talvez tenha rolado um desenvolvimento mais apressado na parte final. Até mesmo os outros finais são breves, geralmente resumidos apenas por um texto explicativo do final do personagem focado. Ainda é um projeto “pequeno” e há essas lacunas na apresentação, que no geral é ótima. 

Por boa parte, a narrativa flui bem e ficar pulando entre o “fluxograma” e desvendando os diversos mistérios da história é interessante.Tirando esses problemas com os finais, a uma história é bem fechadinha com um elenco carismático e uma trama instigante. Os elementos sobrenaturais e de terror são bem utilizados, há uma atmosfera tensa que eu não imaginaria que um jogo tão “estático” poderia ter, mesmo não sendo tão graficamente violento e perturbador. Pode até ser uma qualidade para quem fica desconfortável com horror, nem há muita apelação para sustos costantes. 

Espero que o time, ou ao menos o diretor/escritor, tenha mais oportunidades de trabalhar em jogos maiores. É um título que certamente vai ser pouco apreciado, principalmente por ser algo pouco divulgado, cheio de texto e com orçamento mais baixo, especialmente nesse ano, mas imagino que pode figurar entre os favoritos de 2023 para qualquer um que jogá-lo. 

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