quarta-feira, 6 de maio de 2020

Review - Streets of Rage 4


Com a recente adição de novos jogos desse gênero ignorado, beat em' ups voltaram a ter um certo hype, era esperado algum retorno triunfal de algum dos maiores expoentes do 'briga de rua'. Pra sorte de muitos brasileiros que viveram com o Mega Drive nos anos 90 e além, já que a Tec Toy ainda proporciona essa relíquia da era 16-bits até hoje, a Sega decidiu pegar a Lizard Cube, o estúdio por trás dos lindos remakes de Wonder Boy/Monster World, pra trabalhar com a mais pura porradaria urbana que o Mega poderia proporcionar.

O retorno de Streets of Rage foi aguardíssimo e a chegada de um novo jogo parecia ser improvável após tanto tempo, o que levou a cooperação de três estúdios, fora LizardCube, temos a Dotemu e a Guard Crush Games. Dotemu já trabalhou com a Lizard em outros projetos, enquanto a GuardCrush tem em seu currículo, Streets of Fury, que só o título já dá pra imaginar do que se trata. Com essa união, finalmente tivemos Streets of Rage 4, e apesar de não ser lá o 'fãzão' da série, estava bastante animado, sem dúvidas, SoR1 e 2 são jogos muito bons, beat em' ups de console superiores à muitos de arcades, restava esperar o que o novo capítulo franquia poderia trazer.

De volta a Wood Oak City (cujo nome só fui saber nesse jogo), um novo sindicato do crime se ergue e os cabeças são os filhos de Mr. X, os gêmeos denominados Mr. Y e Mrs. Y. Dez anos se passaram desde o evento de SoR3, Blaze Fieldings e Axel Stone estão de volta e prontos para lutarem para acabar com a criminalidade, junto deles estão Floyd, aprendiz de Dr. Zan, e Cherry Hunter, filha de Adam Hunter, até o próprio Adam entra pro time mais pra frente da campanha. Aí temos o plot dos mais básicos possíveis pra começar a sair dando cascudo em tudo que é mau elemento pela rua. SoR4 não perde muito tempo com história, apesar de ter cutscenes entre fases, não esconde o real motivo de estar de volta: PORRADA!

Pra quem jogou os anteriores, principalmente o segundo, SoR4 é bem similar na parte da movimentação e dos inimigos, as diferenças são as inclusões de mais sistemas de combate, coisas como combos e juggles, fora a reformulação dos golpes especiais, que gastam uma porção de sua vida, essa porção pode ser recuperada ao bater nos adversários. As novas mecânicas se complementam bem e criam uma camada nova na jogabilidade padrão de beat em' up, combos são essenciais para conseguir uma boa pontuação e param de ser contados após um tempo sem um golpe, e o contador é interrompido ao levar uma porrada, levando todos aqueles pontos que você tentou acumular. Pode ser irritante, porém faz sentido.

O foco é ser agressivo, só não pode deixar de ter cuidado, os básicos do beat em' up estão ali, o crowd control ainda é muito importante, há uma boa variedade de inimigos e eles tem comportamentos e golpes únicos, a IA é bem utilizada e cria um bom desafio. Pra quem já é familiar com a Streets of Rage, vai ter um Galsia com uma faquinha, vai ter um Donovan te acertando com um anti-aéreo, vai ser um saco, mas é questão de se acostumar e saber usar coisas como frames de invulnerabilidade em certos golpes. Acho que o que ficou meio desbalanceado são os chefes, a maioria tem seus padrões fáceis de entender, o problema é que há aspectos que aspectos como golpes com "armadura" deixam as lutas mais lentas e de um jeito chato.



Cada um dos protagonistas tem suas particularidades, como Cherry, a personagem rápida, única com a habilidade de correr, e mais fácil de combar, só que não dá muito dano, já Floyd é o completo oposto, um personagem lento com dano grande, mas tem alguns aspectos bem únicos, como seu golpe especial no ar, que dá uma quicada e seus agarrões, provavelmente o melhor boneco "pesado" que já joguei em um beat em' up.

Quanto ao resto do elenco, Adam, ao contrário de sua primeira encarnação, é um boneco veloz, tendo um dash e especiais fáceis de encaixar. Blaze é meio simples, porém funciona bem e tem ataques úteis, já Axel ficou um pouco pra trás, comparado ao resto, ele é básico demais, fora que alguns golpes tem pouco alcance e deixam sua guarda aberta.

Além do elenco principal, há personagens desbloqueáveis, versões antigas de Adam, Axel e Blaze, além de Max Thunder, Skate Hunter e Dr. Zan, apesar de ser mais um bônus nostálgico meio safado, e não terem as mecânicas novas, são uma boa adição, sendo bem fortes e divertidos de jogar.

Um aspecto que incomodou inicialmente, foi a falta de um dash, ou corrida, pra todos os bonecos, apenas Cherry e Adam tem essa opção de mobilidade, é algo que quase todo beat em' up, fora os bem antigos, tem, até mesmo SoR3. Entretanto não é exatamente algo que estrague o jogo, é só questão de se acostumar, faz sentido pelo tamanho das fases e para a forma como cada um dos protagonistas funciona. O que achei estranho foi o ataque da "estrela", um especial que requer uma estrela que você tem no início do jogo e encontra outras pela fase, é um ataque devastador, tira inimigos do chão, tem um grande potencial pra combos, mas não acho que custar um coletável seja algo muito bom, ainda mais um que é contabilizado pra pontuação final, sendo que é um recurso valioso, e bem maneiro, pra não ser usado, preferia que fosse algo que adquirido com pontos, ou uma barra separada. 


Não posso deixar de falar sobre a parte visual e musical, assim como os Wonder Boy da LizardCube, ele é todo desenhadinho, desde os sprites dos personagens até os cenários,cada animação dos golpes, detalhes do cenários, a luz e sombra interagindo com os personagens, visualmente, é um dos melhores jogos 2D que já vi. É claro que a música, que sempre foi um dos aspectos mais queridos da franquia, também é incrível, continuando na pegada eletrônica, agora incorporando mais outros subgêneros, e caindo como uma luva nos ambientes decadentes de Wood Oak City, até os mais luxuosos, isso que há sempre faixas únicas pra cada fase e seus chefes.

Só de pegar o controle e jogar minutos, dá pra sentir aquela familiaridade, assim como ver os mesmos capangas agindo da mesma forma de antes, e não feito de uma forma barata pra pegar pela nostalgia, ele pegou o que funcionava e adiciona elementos novos, deu uma repaginada no visual, longe de dizer que foi uma tarefa fácil, pois há bastante exemplos de como não fazer um beat em' up por aí. Streets of Rage 4 é um trabalho muito bem caprichado e dificilmente a série poderia ter tido um retorno melhor.

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