segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Alan Wake II - O Melhor da Remedy

Após ter uma experiência inesperada com o primeiro Alan Wake, um jogo com uma boa história e personagens, mas repetitivo demais e uma jogabilidade tão básica que não segurava umas 10 horas de campanha, a sequência me parecia bem interessante. Infelizmente, demorou tanto tempo pra chegar, tendo até a primeira versão da continuação sendo cancelada, só que de pouco em pouco, a Remedy conseguiu montar esse glorioso retorno.

Em 2023, Alan Wake II aconteceu, após 13 anos e levando em conta esse período para continuar a trama do antecessor, onde o protagonista homônimo, um escritor famoso, desaparece na cidade de Bright Falls. Alan encontrava partes de um manuscrito de um novo livro seu, porém não lembrava de ter escrito ele.

As páginas narram o desaparecimento de sua esposa, e o ataque de misteriosas criaturas tomadas pelas sombras nesta cidade do interior. No final, ele fica preso em uma dimensão das trevas chamada de “Lugar Obscuro”, escrevendo uma nova história para a entidade nomeada “A Presença Obscura”, enquanto Alice estava “salva”. A sua habilidade de escrever ficção é usada para alterar a realidade e fazer os desejos desse ser maligno.

Treze anos depois, os agentes do FBI, Saga Anderson e Alex Casey, investigam um bizarro assassinato ocorrido nas proximidades do lago Cauldron, em Bright Falls, onde um homem é encontrado nu, com um buraco na barriga e o coração arrancado. Saga é a co-protagonista, investigando a cidade e tentando desvendar o assassinato, o que leva ao desaparecimento de Wake e um aparente culto macabro na cidade. Enquanto isso, Alan está preso numa espécie de loop dentro do Lugar Obscuro, procurando um meio de sair.

Então, de um lado temos uma aventura detetivesca e do outro temos uma jornada por um pesadelo, um trabalhando com o outro para chegar ao mesmo objetivo. Na parte da Saga, você vai investigando Bright Falls, falando com os cidadãos e eventualmente enfrentando pessoas corrompidas chamadas de “os possuídos”. 

A investigação é resumida na mente da protagonista, colocando fotos, depoimentos e fatos numa parede e fazendo as ligações, formulando hipóteses e soluções para resolver o caso. Enquanto isso poderia ser apenas mais um menu, o jogo faz ser um lugar “físico” e acessível a qualquer hora. Saga também é capaz de fazer o “profiling” de testemunhas, tentando emular suas mentes e imaginando o que eles podem estar escondendo, ou onde eles foram. 

Honestamente, essa parte toda do “Mind Place” é minha favorita, isso pois já joguei dezenas de jogos de detetives e focados em mistérios, e acho que Alan Wake II sumariza bem o caso e faz o jogador ter um papel ativo em resolver o caso junto da personagem. Mesmo sendo um mistério linear e relativamente fácil de entender, é bom ter tudo num lugar e ver toda a lógica do caso se desenvolvendo.

Fora a trama principal, há bastante para explorar em Bright Falls, procurando baús, lancheiras e outras coisas, como as cantigas, onde um círculo de desenhos fica ao redor de um textinho e você deve colocar bonecos nos desenhos corretos conforme a cantiga. Também há outros puzzles que requerem observações e lógica para descobrir senhas e coisas diversas, umas sendo obrigatórias para avançar, e muitas outras são para loots opcionais.

Quanto ao combate, como mencionado, Saga confronta os possuídos, seres agressivos cobertos de sombras que aparecem no mundo real. Assim como o primeiro título, a luz é um elemento importante, pois os inimigos são seres das trevas e são afetados por ela. A lanterna pode remover a “proteção sombria” deles, deixando-os vulneráveis a tiros, você também podendo usar outros recursos de luz para ficar seguro, ou atingi-los.

Como os possuídos são consideravelmente fortes, enfrentar uns três ao mesmo tempo pode ser tenso, somado aos elementos mais similares a Survival Horror, logo o jogador precisa se preocupar com os recursos e espaço no inventário. Joguei no modo difícil e achei um desafio justo, mas sempre procurei ir atrás dos recursos extras, então não cheguei a ter problema com munição ou cura, só que os inimigos ainda são fortes e eventualmente criaram situações difíceis e algumas mortes.

Enquanto Saga investiga o mundo real, Alan está preso numa versão surreal de Nova Iorque, onde sombras ameaçadoras ficam paradas pelo cenário, prontas para te matar, porém é possível evitá-las ao não apontar a lanterna em sua direção, ou não fazendo barulho e não chegando perto delas.

Inevitavelmente, Alan vai ter que lutar e seus recursos são mais escassos, comparados a outra protagonista, até sua pistola, que é aquele revólver clássico de seis balas, é mais difícil de manejar, apesar de causar mais dano. Em compensação, você costuma arrumar fogos de sinalização e outros itens, fora que os upgrades são mais fáceis de achar.

Já mencionando upgrades, esses são círculos de palavras que você encontra por cantos do cenário, indicados pelo seu mapa, e ao iluminá-las, elas aparecem como “palavras do poder”, tendo categorias como “palavra de guerra”, onde você pode escolher entre upgrades de combate. Para Saga, os upgrades são partes de páginas que são convertidas em páginas completas narrando a melhoria que a Saga recebe, ou seja, é Alan escrevendo um aprimoramento para ajudar a detetive.

Fazendo paralelo à sala de investigação imaginária da Saga, Alan possui a sua sala mental de escritor, que é menos utilizada que a contraparte, mas possui um elemento essencial, o quadro. Um detetive precisa usar lógica e percepção para exercer sua técnica, já um escritor trabalha com ideias. O desafio de Alan não vem apenas de escrever, como re-escrever uma história que ele fez, mas sobre a influência do Lugar Obscuro.

O quadro tem a ideia principal de como a nova história de Alan vai ser, acompanhando Alex Casey, o personagem criado pelo escritor, não o companheiro da Saga, investigando um caso onde um culto segue a palavra do próprio Alan Wake. Durante a exploração desse mundo, você encontra pontos principais da narrativa e precisa de palavras chaves para mudar o cenário. 

Por exemplo: um beco sem saída pode ter algo novo ao incorporar um novo elemento, como um assassinato, então você vai no quadro, escolhe a palavra “assassinato” e incorpora ao cenário e muda esse beco para a cena de um assassinato e talvez um caminho novo surja. As mudanças de cenário, como essa mencionada e entrar na sala mental, são possíveis graças às novas tecnologias de SSD, e acho que a Remedy foi um dos poucos estúdio que utilizou esses avanços não só de forma técnica, como criativa.

É notável que todo aspecto gráfico de Alan Wake II é excelente, e olha que isso vem de um estúdio que não faz projetos gigantescos e de orçamentos enormes. A direção de arte é incrível, como eles conseguem fazer algo realista, mas também cenários surreais com efeitos únicos, com bom uso de luz e sombra.

Sendo um jogo de terror, e de fato de terror, não é como o seu antecessor, apesar de ter alguns um jumpscare fajutos aqui e ali, é o que trás a vibe de horror, é a atmosfera de estar navegando por um pesadelo, ou investigar um culto de mascarados no meio de uma floresta de noite. Ele fica no meio entre um Twin Peaks e True Detective, que claramente são inspirações no enredo e a ambientação.

E mesmo com tantos aspectos de horror e suspense, ainda há muito espaço pra ser cômico e galhofa. As interações mundanas com as diversas figuras de Bright Falls são divertidas, e um dos momentos mais icônicos, que agora já é muito conhecido devido a performance no Game Awards, é o capítulo We Sing, onde o programa de entrevistas ocorrendo no Lugar Obscuro se torna um musical misturado com uma entrevista.

Essas mudanças e misturas de tons são característicos da Remedy, bem como usar outras mídias para contar suas tramas. Além das músicas, textos e misturas de trechos live action, o jogo chega a ter um curta de 15 minutos que pode ser assistido em um dos capítulos, e depois aparece no seu Mind Place para assistir a qualquer hora.

Após jogar o primeiro Alan Wake e me deparar com uma boa história que eu não queria jogar, é bom ver que a sequência consegue fazer um retorno triunfal, melhorando tudo do original. Mas ele também vai além do fato de ser uma continuação, é basicamente uma referência aos diversos anos da desenvolvedora e seus títulos, que sempre tentaram trazer narrativas em videogames de uma forma única. Alan Wake II é basicamente o jogo ideal da Remedy.

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