segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Alan Wake - O Jogo de Não Terror

Adormecido há anos na minha biblioteca da Steam, resolvi finalmente jogar Alan Wake devido ao lançamento da sequência no mês que vem. Alan Wake foi originalmente lançado para o Xbox 360 em 2010, recebendo um port para PC no ano seguinte, esse que joguei agora, não a versão remasterizada.

Ele foi o primeiro jogo da Remedy Entertainment após Max Payne 2, tendo similaridades em sua estrutura narrativa e outras coisas. Primeiro que o jogo tem o nome do protagonista, esse sendo um sujeito que narra sua própria jornada e essa história é focada num laço familiar. Enquanto Max vive com a dor da sua família assassinada, Alan procura sua esposa perdida pelas trevas. Outros títulos da Remedy, Quantum Break e Control, também possuem alguns desses elementos.

Alan Wake se vende como um “thriller psicológico” onde o protagonista homônimo, um famoso escritor, vai passar um tempo de férias com sua esposa, Alice, em uma cidade do interior chamada Bright Falls. Alice desaparece e Alan começa procurá-la pela noite, então a própria escuridão começa atacá-lo, dominando objetos e criando pessoas cobertas de sombras.

As influências principais vêm dos livros do Stephen King e dos seriados Twin Peaks e Além da Imaginação/Twilight Zone. O jogo se separa em episódios e até tem um final para cada um com direito a música de encerramento. Assim como Max Payne, há uma brincadeira de misturar as mídias, sendo um jogo sobre um escritor de livros e com estrutura de série de TV. As referências são óbvias, mas não se trata de uma cópia.

Apesar dessa premissa e todas suas inspirações, Alan Wake não é um jogo de terror, o que é bem destoante. Você tem toda essa proposta e ele não é perturbador, ou sinistro, nem a jogabilidade tem elementos de horror, não há escassez de recursos, dificilmente criando tensão pela falta de algo. Mesmo a parte visual não é muito marcante, nada sanguinolento ou sinistro, no máximo algumas loucuras metas envolvendo trechos live action com o modelo do Alan.

Todo o tom do jogo acaba sendo um tanto estranho, visto que a história tem seu elemento de suspense, onde Alan procura sua esposa desaparecida, mas é incerto se ele está passando por algum tipo de alucinação, ainda mais por ficar achando páginas de um manuscrito que conta os eventos do jogo enquanto eles acontecem. A busca por Alice também mostra um lado um tanto obsessivo do protagonista, então pode ser um caso da culpa perseguindo-o.

A jogabilidade é puxada para ação, mas é um TPS bem ordinário com algumas coisas interessantes. A ideia principal é a manipulação de luz para derrotar os inimigos, esses que são encobertos de sombras. Tiros normais não afetam os seres sombrios, chamados de “Taken”, mas a luz tira essa “armadura” de sombras ou pode até feri-los.

Fora suas armas de fogo, você tem a lanterna, servindo para iluminar os inimigos, onde apenas mirar a lanterna já atordoa um adversário, mas é preciso jogar a luz por algum tempo para tirar a proteção, ainda mais se for um possuído mais forte. Entre atordoar, se posicionar, fugir, carregar sua arma, ou até suas pilhas da lanterna, o combate possui ideias interessantes, só que acaba sendo prejudicado pela repetitividade e a falta de variedade.

Mesmo conseguindo armas melhores e outros equipamentos que dêem uma camada maior de estratégia, o jogo se resume a ser atacado por ondas dos mesmos inimigos. Eventualmente, algumas entidades diferentes surgem, como uma escavadeira possuída, servindo como um chefe, mas não é nada especial, visto que você consegue derrotar facilmente. Eu usei umas três granadas de atordoamento e a luta acabou, e mesmo enfrentando normalmente, não é nada demais.

A coisa mais legal das lutas são os efeitos de câmera, ocorrendo quando você desvia de ataques ou acerta algo como uma explosão. Dá uma sensação boa para a jogabilidade e parece que você está fazendo algo mais legal do que de fato é.

Mas falando em gráficos, a versão original de Alan Wake continua bem bonita, tirando os modelos e suas expressões. É um jogo da sétima geração, então algumas coisas são esperadas, porém, os rostos dos personagens são inferiores a muita coisa da era e o personagem pouco lembra seu ator, que você vê com certa frequência devido as partes em live action que aparecem nas TVs.

Provavelmente, esse é o melhor aspecto do Remaster, já que os modelos dos personagens melhoraram consideravelmente. Independente da versão, o cenário continua bem feito, praticamente todo jogo se passa em Bright Falls, se resumindo numa cidadezinha de interior, com campos rurais e florestas cheias de pinheiros, ou algo assim, lembra Twin Peaks, mas mais modernizado.

O que carrega o jogo é a narrativa, onde Alan vai entrando nessa espiral de loucura, entendendo o misticismo por trás do que está acontecendo e se questionando se isso é real. Ficar encontrando as páginas do livro que conta a história principal é um detalhe bem bacana, pois eles são coletáveis opcionais, alguns estão presos nas dificuldades maiores, e não são sempre em ordem cronológica.

As páginas podem contar eventos que já ocorreram, dar mais detalhes de personagens que você já encontrou, ou irá encontrar, ou narram coisas que estão para acontecer. Apesar de faltar mais elementos sinistros e terror, o jogo tem uns mind fuck legais com isso. Outros elementos de ambientação são legias, como a série Night Springs, que é escrita pelo Alan Wake antes de virar escritor de livros, também há transmissões de rádio falando sobre o que tá rolando na cidade.

O protagonista é o foco maior com algumas participações menores do pessoal de Bright Falls. Alan tem um pseudo ajudante, seu editor e amigo, Barry Wheeler, que é aquele estereótipo de personagem gordo falastrão, que fica entre o engraçado e irritante, mas no geral é um bom coadjuvante para a seriedade do protagonista, esse que é um enigma por si.

E por incrível que pareça, a campanha não acaba a história base por si, pois, originalmente, houveram DLCs. The Signal e The Writer são DLCs que se passam após o final e dão uma variada na jogabilidade, são curtas mas tem um valor narrativo maior, enquanto a próxima DLC/jogo standalone, American Nightmare, é uma espécie de realidade alternativa, onde Alan tem uma jaqueta xadrez, uma atitude mais de boa e o clima é mais puxado para galhofa e focado em ação.

American Nightmare ficou de fora quando lançaram o remaster em 2021 e não é exatamente um must-play, já que basicamente retém boa parte dos problemas do original, apesar de haver mais armas e alguns inimigos novos, não é o bastante para mudar a cerne repetitiva do jogo, e olha que há um "arcade mode". A história não é tão significativa, ou talvez seja, veremos o que Alan Wake II tem a dizer, mas parece só um “what if” divertido.

Acredito que Alan Wake possa ser visto de duas maneiras: Ou é um jogo ok envolto de uma ótima história, é uma boa história dentro de um jogo chato. A história ser melhor que os outros aspectos é até algo comum em muitos jogos, mas aqui o problema é que a jogabilidade tem o básico do básico, é perfeitamente jogável, só não é material o bastante para as 10 horas.

Sendo justo, ainda há um mérito criativo nessa parte de manipular a luz para enfrentar os inimigos, é uma mecânica legal, especialmente na era que saiu, só é colocada junto de um TPS bem sem sal. Mas independente desses problemas, acho que vale a pena ao menos experienciar Alan Wake uma vez, especialmente para os fãs de mistério e terror, ou quem tem um pingo de interesse no gênero, mas é muito covarde para experimentá-lo, já que o fator horror em Alan Wake é bem leve.

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