quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Prince of Persia: The Lost Crown - Alcançando um novo patamar

Apesar de uma notória popularidade, Prince of Persia entrou na geladeira da Ubisoft há uns 10 anos, dando algum sinal de vida há algum tempo com o remake de Sands of Time, que aparentemente se perdeu no tempo, e mais recentemente com essa nova vertente com Prince of Persia: The Lost Crown. Uma surpresa muito bem vinda, já que a Ubi entrou num loop de apenas títulos grandes.

O novo título é um retorno inesperado, e mesmo que apontem que é uma volta à “velha forma” da franquia, se referindo ao jogo original, esse título é um território incomum para PoP. Não posso garantir que é algo totalmente diferente do que a série já teve, visto que o primeiro já era um jogo 2D focado em exploração, mas não sendo algo tão adequado ao que chamamos “Metroidvania”.

Já na era da trilogia de Sands of Time, dá pra dizer que eles seriam metroidvanias, só que sendo 3D, onde praticamente não utilizam esse rótulo por algum motivo. Lost Crown não surpreende apenas por ser metroidvania, mas também por ser claramente inspirado por diversos jogos do gênero. Só de ver a câmera, movimentação do personagem e ataques dos inimigos do primeiro trailer, era clara a influência de Metroid Dread, e também há outras coisas.

Apontar essas semelhanças não é detrimento algum, e sim uma forma de identificar que os desenvolvedores estavam bebendo das fontes certas e havia um potencial enorme com esse renascimento. Até mesmo a pose imóvel do protagonista no mapa é uma pose bem “castlevaniaca”, digna de um herói imponente.

Ao contrário dos títulos anteriores, você não joga com o príncipe da Pérsia, nem ao menos está de rolo com a princesa, aqui o protagonista é Sargon, parte do grupo chamado de Os Imortais, composto pelos melhores guerreiros da Pérsia. Após um ataque ao reino, o príncipe é capturado e levado ao Monte Qaf, um local místico onde o tempo flui de forma diferente e habitado por diversos seres mágicos e inumanos.

Qaf oferece uma variedade de ambientes, indo de cavernas, palácios, florestas e demais. É um bom mapa de metroidvania, apresentando cenários belos e distintos, incluindo uma das áreas mais criativamente legais que já vi num jogo do gênero. Pode até parecer que ele é extenso demais, mas Sargon vai ganhando habilidades de locomoção e há alguns teleportes em cada área, fora que cada área vai apresentando um design de cenário único que é divertido de explorar.

Seguindo a tradição da série, você vai se deparar com puzzles e armadilhas, o que leva até segmentos de platforming mais precisos, utilizando as suas formas de mobilidade ao máximo, e dá até para deixar algumas partes mais difíceis para mais tarde, quando o jogador pegar novas habilidades para facilitar certos desafios.

Dentro desse âmbito, um recurso bastante útil são as “Visões”, onde o jogador pode tirar uma screenshot a qualquer hora e um ícone fica marcado no mapa com essa imagem gravada, o que deixa mais fácil de marcar os locais com algum local inacessível que você pode voltar depois, ou um puzzle que não foi decifrado no momento. Ainda é possível usar alguns marcadores no mapa, mas esse recurso da screenshot é tão útil que mal há necessidade, apesar de eu ter utilizado pouco, mais pelo fato de esquecer dele.

Esse tipo de platformer pode ter problemas de ritmo e repetição devido às voltas pelo mapa, mas a progressão de Lost Crown vai garantindo formas novas e dinâmicas de revisitar os cenários. As habilidades adquiridas pela campanha tornam a exploração mais interessante. A sua movimentação no início comparada ao final é muito diferente, e trechos que levaram alguns minutos e diversas acrobacias se tornam segundos.

Sargon ganha coisas básicas como um dash aéreo e um pulo duplo, mas eventualmente há algo como deixar um resquício para trás e poder voltar nele, o que tem sua utilidade para desviar de armadilhas e também dentro das lutas. Pode parecer pouca coisa, mas as opções de movimentação e combate enchem seu controle e parece até faltar botão, algo similar ao próprio Metroid Dread. E pode parecer até demais, mas não é necessário usar tudo, ainda mais que a dificuldade é bem customizável, com até opções únicas para escolher o dano e vida de inimigos, e etc.

Muitas das habilidades e propriedades dos golpes são similares a um hack n’ slash, permitindo arremessar inimigos no ar e fazer juggles, o que cria uma gama bem estilosa para experimentar no combate, mas é claro que é o tipo de coisa que é tipicamente fácil de fazer em inimigos padrões, já que os chefes estão em outro nível. 

Praticamente, cada área tem um ou dois chefes e cada batalha é bem elaborada com visuais e animações excelentes e oponentes únicos. Fui pego de surpresa com a dificuldade, apanhei bastante e fui aprendendo os padrões e pegando o jeito de como desviar, dar parry e usar habilidades especiais. Algumas coisas podem ser facilitadas através do sistema de upgrades, para melhorar suas armas e medalhões, esses que são modificadores opcionais que oferecem coisas como recuperar vida com parries, ou dar mais dano com golpes aéreos.

Um aspecto que não é muito destacável é a história, não sendo necessariamente ruim, mas é meio blasé. Há elementos religiosos, históricos e culturais da Pérsia, além de outras, como grega e nórdica que compõem um universo interessante, especialmente como essa parte mais "mitológica" é aplicada dentro do Monte Qaf. Porém, o plot principal e os personagens são pouco distintos, Sargon é mais expressivo e estiloso durante as lutas de chefe do que durante a história. 

Sendo justo, a narrativa têm twists interessantes e um 'quê' meio místico durante a jornada, só falta algo a mais. Outra parte, que diria que é um problema menor, é nos diálogos, onde os personagens são mostrados através de "portraits", que podem até mexer alguma parte do corpo, mas eles não alteram as imagens, então fica algo meio estático e pouco expressivo. Os defeitos não são terríveis, só que fica notável em uma obra onde tudo é bem feito, essa parte da narrativa não se destaca.

O material de referência é visível, é a cara de um Metroid Dread com platforming e sistema de amuletos de Hollow Knight, além de um sistema de combate similar a um hack n’ slash, tendo até chefes que são praticamente versões 2D de Vergil e Kratos. Os desenvolvedores tiveram boas inspirações e criaram sua visão diferenciada de como fazer um metroidvania, bem como trazer uma nova interpretação para Prince of Persia.

The Lost Crown tem um gostinho de Ubisoft clássica, algo que não acontecia há quase dez anos, desde Rayman Legends. Estúdios grandes fazendo jogos menores com alto nível de polimento e qualidade é algo que faz falta, ainda mais sendo um retorno de uma franquia clássica que já teve umas 3 reinterpretações. Metroidvania é um sub gênero pouco explorado nas esferas das maiores desenvolvedoras, então receber um com esse tratamento já é algo louvável, também há o fator que o jogo é realmente excelente e pode não apenas ser colocado como um destaque no gênero, mas um novo influenciador.

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