quinta-feira, 25 de março de 2021

[Opinião] O que deu de errado no Stadia?

    Tudo. Quase poderíamos resumir assim toda a atividade do Stadia. Desde o seu anúncio nada parecia funcionar em favor da plataforma de games do Google, culminando no fechamento do que eventualmente deveria vir a ser o carro chefe da plataforma, o seu estúdio interno de desenvolvimento de games. Não que o serviço tenha sido descontinuado, mas parece estar respirando por aparelhos.



    O Stadia ainda existe e vai continuar existindo no mesmo modelo, porém sem perspectivas de grandes avanços. Alguns jogos, como Resident Evil 7 e Village, Disco Elysium e Far Cry 6, por exemplo, estão listados como lançamentos futuros da plataforma ainda, entre outros trinta e dois títulos, mas eu, pessoalmente, não vejo nenhum atrativo para assinar o serviço por conta desses lançamentos. E nem conseguiria se visse, pois não está disponível no Brasil

    Um dos atrativos do Stadia é conseguir rodar games em qualquer máquina, bastando apenas uma conexão de internet estável e com velocidade suficiente. Porém, pensando um pouco nesse ponto, acredito eu que, se a pessoa tem uma conexão boa o suficiente para o Stadia, também deve ter condições de ter um PC bom o suficiente para rodar a maioria dos games ofertados sem precisar depender de estabilidade de conexão e nem pagar um serviço adicional além do preço do jogo. O Stadia tem muitos poucos exclusivos (12, pra ser exato), o que significa que é possível comprar os títulos mais atrativos na Steam, uma plataforma muito melhor estabelecida.

    Falando na plataforma da Valve, aliás, você também consegue usar seu celular, tablet e TV para jogar os games de sua biblioteca utilizando o Steam Links, que parece ser bem simples e funcionar bem. Nesse caso não é a mesma coisa que o Stadia, pois você está usando o seu computador para rodar os games e usando o celular na mesma rede de Wi-Fi. Ainda assim acredito que posso considerar como um concorrente quase direto do Google.

    A Microsoft também está avançando bastante no Project xCloud, possibilitando o streaming de games também diretamente para outros dispositivos. Este eu tive a oportunidade de testar e senti que funciona até que bem, mesmo ainda estando em beta. A tecnologia de streaming ainda tem muito a evoluir, principalmente na questão de delay e input lag, problemas que o Stadia também apresenta, mas acredito que em poucos anos poderemos ter esse tipo de serviço sendo oferecido com muito mais qualidade. Talvez o Google tenha se adiantado demais nessa corrida.

    Valve e Microsoft já estão no mercado de games há bastante tempo, porém a Amazon também resolveu entrar na brincadeira com o Luna. O Luna, ainda em beta, também é uma plataforma totalmente baseada no cloud gaming com um esquema de monetização um pouco diferente do Stadia. O Stadia oferece a versão pro, que disponibiliza uma biblioteca imediatamente (não todos) e você também consegue comprar os games e jogar mesmo sem uma assinatura. Já com o Luna você é obrigado a pagar uma taxa, que é menor que a do Google, mas tem acesso a uma lista maior de games. 

    A Amazon ainda oferece diferentes pacotes de assinatura. O padrão é o Luna+, que oferece games como No More Heroes, a serie SteamWorld, CrossCode entre outros, mas também está sendo ofertado neste beta o Ubisoft+, abrindo a biblioteca de games da desenvolvedora, inclusive alguns mais recentes como o relançamento de Scott Pilgrim. A assinatura do pacote da Ubisoft é mais cara, mas você pode assiná-la sem a necessidade de ter o Luna+. É um modelo interessante e diferente, o problema é que, conforme sejam disponibilizados pacotes de outras desenvolvedoras, o preço da assinatura vai subir rapidamente.


    O Stadia hoje, quase um ano e meio após o seu lançamento, conta com aproximadamente 150 títulos em sua biblioteca, um número bem pequeno, ainda mais considerando que os exclusivos são poucos e não muito chamativos. Se você se lembrar dos primeiros meses do Nintendo Switch, muito se falava também que ele não tinha muitos jogos (o que eu não concordo) e que muitos dos que tinham eram ports de jogos antigos. Bom, fui conferir de acordo com essa lista aqui e o Switch, no mesmo período de tempo, tinha aproximadamente 817 games disponíveis, incluindo vários exclusivos de peso. Acho que o preço do hardware, que o Google não cobra, vale a pena pela quantidade de conteúdo a mais.

    Tudo no texto até agora foram problemas externos e comparações com a concorrência. Vendo apenas isso eu já acharia que usar o Stadia não seria a melhor opção, porém, infelizmente, problemas internos também minaram a divisão de games do Google.

    Começando pelo diretor criativo do Stadia, Alex Hutchinson, que talvez você tenha visto algumas vezes dando opiniões controversas pela internet. O mais recente foi a que streamers do twitch deveriam pagar uma taxa para os desenvolvedores para fazer conteúdo com games pela plataforma, uma ideia contrária ao que acontece e parece funcionar. O The Business of Business apontou que, com ideias assim erradas sobre a indústria de um diretor criativo, o serviço poderia já se comprometer de imediato e que ofertas de emprego para trabalhar com o Stadia já vinham em queda antes mesmo de abril de 2020.

    A Bloomberg relatou outros problemas que podem ter causado o enfraquecimento rápido da plataforma, apontando que, diferente de outros produtos do Google, que ficam em beta por muito tempo e são incrementados aos poucos, o Stadia teve um grande anúncio, uma promessa de fazer alarde logo de início e acabou por lançar em uma versão quase equiparável a um beta. Além de ter features anunciados que nunca apareceram, como o compartilhamento de momentos específicos do game para amigos poderem experimentar um pouco do jogo onde você está.


    O fato de não necessitar de um console pode até ter sido um atrativo para alguns, mas, ao menos no início, ainda era necessário ter o controle e um Chrome Cast de última geração. Mais um exemplo de má gerência da plataforma vem daí, pois a venda de controles ficou tão abaixo da meta que o Google acabou distribuindo eles gratuitamente.

    Tudo isso somando ao que aparentou ser uma falta de entendimento do mercado acarretou no fechamento do estúdio interno de desenvolvimento em fevereiro. Uma fonte do link acima relatou que a empresa não aparentava estar realmente interessada em se fixar no mercado, caso contrário estaria disposta a perder dinheiro inicialmente. E outras fontes comentaram que teria sido melhor uma abordagem como a da Microsfot, que dá mais liberdade aos estúdios que compra, indicando que as lideranças que pareciam inexperientes ainda tentavam guiar os projetos do estúdio.

    Depois do anúncio do fechamento de seu estúdio de desenvolvimento de jogos, muitos já consideram a plataforma morta. O que respirava por aparelhos ficou ainda mais debilitado. Para finalizar a desgraça, os exclusivos da plataforma parecem ter começado a se mexer para ficarem disponíveis em outros lugares, como foi o caso recente do Super Bomberman R Online, que será lançado também para consoles e PC (fora do Stadia).

    Então, como podemos ver, talvez até não tenha sido tudo errado da parte do Stadia, porém eu, em minha humilde pesquisa e conhecimento mediano, não consegui encontrar um ponto onde a plataforma de games do Google tenha se destacado positivamente. Confesso ter ficado um curiosamente empolgado no evento de anúncio com as promessas feitas, realmente parecia algo inovador SE funcionasse devidamente. E esse SE foi pesado demais até para os bilhões de dólares nos cofres da gigante de tecnologia.

Correção: tem esse destaque positivo aqui:

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