sexta-feira, 3 de julho de 2020

Review - Death Stranding



Havia uma ideia bem vaga do que se tratava do novo projeto de Hideo Kojima apresentado na E3 2016, após anos trabalhando apenas em Metal Gear, finalmente teríamos algo inteiramente novo e sem ser amarrado por alguma empresa. Death Stranding parecia se tratar de algo totalmente fora do normal e indefinido, isso até vermos que ele se tratava de caminhar. Isso simplificando ao máximo a proposta. Apesar de não ser algo bem visto por muitos jogadores, levando até a criação do termo derrogatório "Walking Simulator", Death Stranding pega algo básico e faz ele ser complexo, algumas vezes complicado.

Death Stranding é o nome de um fenômeno paranormal onde mortos ficaram "atolados" no mundo real, o que gerou desastres que quase levaram a humanidade à extinção. Humanos possuem algo chamado A Praia, um limbo entre a vida e a morte, o Death Stranding acabou deixando BTs, ou Beached Things, fantasmas invisíveis presos na realidade, que vieram acompanhados da chuva quiral, que é capaz de "envelhecer" tudo o que toca. E diante esse cenário apocalíptico, os Estados Unidos se dividiu, foram criadas cidades e abrigos subterrâneos, a sociedade começou a se criar com pouco contato com a natureza e com comunidades separadas umas das outras.



Bridges, uma companhia dirigida por Bridget Strand, presidente dos EUA, está tentando unir todo país através da rede quiral, uma rede de comunicação mega avançada que utiliza A Praia para criar tecnologias. Amelie, filha de Bridget, saiu em uma expedição para tentar unir todas as cidades e abrigos, mas acabou sendo capturada, o que leva a presidente contatar Sam Bridges, seu filho que havia se afastado da empresa. Sam é um entregador, uma das mais valiosas profissões nesse mundo perigoso e pouco transitável, apesar de parecer não se importar muito com o objetivo da sua mãe, ele aceita a missão e terá que andar por todo país para tentar criar alianças e resgatar sua irmã.

Além disso, Sam é um ser humano especial devido sua conexão com o outro lado, chamada de DOOMS, uma espécie de "poder", fazendo que ele sinta a presença de BTs e possa "renascer" após ser atacado por eles. Fora isso, Sam encontra um BB, uma unidade onde um bebê fica dentro de uma incubadora, isso permite com seu dispositivo "odradek" detecte a presença de BTs.

Há bastante elementos de história e gameplay e dá pra ver como um justifica o outro, apesar do jogo te sobrecarregar com muitas informações e mecânicas, além de querer explicar tudo, e ainda deixa algumas coisas importantes de lado. Sem dúvidas é um universo riquíssimo, tem esse conceito interessante de um mundo desolado onde a humanidade está no seu ápice de tecnologia, mas perderam suas conexões, e o jogo não é nada sutil quando se trata desse tema. Felizmente, ainda têm um lado bem descontraído, mesmo sendo um jogo foto realista lindíssimo com atores famosos e uma captura facial absurda, ele ainda consegue se divertir com suas esquisitices e ainda ser estiloso.




Sam percorre cidades e abrigos fazendo entregas e tentando conectá-los à rede quiral, cada local tem um representante que falará diretamente contigo. Uns já querem fazer essa união, outros ainda suspeitam da Bridges e preferem o isolamento, mas algumas entregas acabam os convencendo. Aí que entram as viagens, sair de ponto A para ponto B, que podem variar de uma caminhada tranquila e relaxante para viagens longuíssimas e tensas, onde BTs podem estarem nos seus caminhos, terrenos montanhosos difíceis de andar, chuva quiral caindo toda hora e destruindo seu equipamento.

Mesmo se preparando e conseguindo algumas opções mais rápidas de entrega, sempre pode haver um problema. Sam tem um limite de peso pra carregar, então não dá pra levar todo equipamento, mas sempre é importante levar o básico, como uma escada para subir um local alto ou atravessar um rio com correnteza forte. Então entra o elemento do multiplayer, ao se conectar a uma área com rede quiral, você tem acesso a construções e equipamentos de outros jogadores e eles à suas, como aquela corda usada para descer um penhasco que tu colocou, pode ser usada por um outro jogador descer também, ou até subir.

Há uma conexão entre mundos de cada jogador, você pode até consertar estruturas de outros, entregar pacotes perdidos, complementar um sistema de tirolesas. E ainda há os "likes", cada missão realizada gera likes que vão aumentando o perfil de entregador de Sam, e os equipamentos e construções também podem receber curtidas, dando uma chance de jogadores recompensarem uns aos outros, e você vai saber disso devido a porrada de notificações do lado da sua tela.



A parte do combate é ok, você não tem muitas opções inicialmente, sua única arma são seus punhos e uma boleadeira, para lidar com os MULAs, ex-entregadores que se rebelaram e agora estão roubando cargas. Eles são os inimigos humanos, então não é uma boa ideia lidar de forma violenta, visto que se um morrer, você deve levá-lo até uma fornalha para queimar o seu corpo, assim os BTs não podem explodi-los.

De qualquer forma, o combate é bem básico e é até interessante, até que armas de fogo normais são introduzidas, o que o deixa mais básico e menos interessante, principalmente pelo fato delas terem munição não-letal. Os MULAs também conseguem equipamento melhor com o tempo, mas continuam sendo fáceis, chega a ser até uma questão de você experimentar e brincar com eles com seu arsenal. Acho que foi mais algo minha expectativa, visto que no começo parece ser algo mais desafiador e te dá umas opções bem peculiares e criativas.

Os BTs são a verdadeira ameaça, quando Sam está perambulando por aí e seu odradek aparece, é pra ficar em alerta máximo, no começo é muito pior pela falta de recursos, depois o jogo te dá armas e granadas que usam seu sangue, a única coisa capaz de derrotá-los, e até mesmo sendo um recurso limitado, dá pra se virar. E se você ser pego pelos BTs, Sam é puxado pra uma batalha com um monstro, que é bem direta, fora que o jogador recebe uma ajudinha com equipamentos surgindo pelo cenário e sendo jogados por fantasmas de outros jogadores, e mesmo morrendo, é possível ressuscitar usando as habilidades de Sam. O verdadeiro desafio é manter a carga intacta, até mesmo fugindo do confronto, a chuva prejudica bastante, ainda mais na maior dificuldade, que acaba sendo um detalhe bacana, mas de resto é só aquela velha desculpa pra criar inimigos "esponjas de bala".


O maior problema acaba sendo o ritmo do jogo, se parar pra fazer sidequests e o conteúdo adicional, tem bastante enrolação, conseguir maximizar seu ranking com cada local é meio demorado, alguns até valem a pena pelos equipamentos adquiridos, mas no geral não é algo que vale a pena. Adicionando isso com a campanha principal, que também tem um ritmo meio estranho, acho que o jogo se torna um pouco enjoativo, ao menos a história consegue puxar até o final, apesar dos pesares.

Quando se trata dos personagens e o lado mais emotivo, acho que o jogo acerta, Sam conhece outras figuras peculiares durante sua jornada, seres humanos que foram afetados pelo Death Stranding de um jeito único, como Mama, uma cientista que teve seu bebê recém-nascido morto durante a catástrofe, mas a criança ficou presa nessa realidade e ligada à sua mãe pelo cordão umbilical. E é interessante ver como Sam acaba virando um herói pra todos mesmo ele sendo uma pessoa apática, é claro que ele vai se desenvolvendo mais e criando um laço com o BB.



Mais há um lado bem conturbado na narrativa, quando se trata de Amelie, aí que não tenho um julgamento exato, Sam parece se importar bastante com ela, mas não é algo que transparece tão bem pro jogador, principalmente pelo fato que é bem óbvio que tem alguma coisa de errado com ela. Todo o arco de resgatá-la e enfrentar Higgs, líder da organização terrorista que a capturou, não é muito convincente, até o momento que você o enfrenta mano-a-mano é meio forçado, além de que, comparando-o ao outro antagonista, Higgs fica pior. Cliff é uma figura misteriosa, um soldado com poderes incríveis que está atrás do seu BB, em todo confronto, ele coloca Sam em um cenário de guerra, onde você tem que enfrentar ele e seus soldados. Os confrontos podem até serem simples, geralmente sendo mais uma questão de simplesmente achá-lo no mapa e meter bala sem muita cerimônia, todo ambiente e o desenvolvimento para essas lutas é incrível.

Não sei se consegui digerir tudo que foi apresentado em Death Stranding. Acho que a primeira impressão foi bem agradável, o que parecia um jogo bem esquisito, acabou sendo familiar, mesmo ele não ajudando muito com tanta informação sendo jogada na sua cara. Imagino que daqui um tempo, terei uma ideia mais concreta sobre tudo, no momento, acho que foi uma abordagem bem única para esse fórmula open-world, porém não deixou de cair em alguns erros comuns, mas sendo um jogo AAA, não haveria muito jeito de ser tão diferente.

 Como fã de Metal Gear, foi legal ver uma espécie de nova abordagem de assuntos já discutidos em Metal Gear Solid 2, coisas como internet, redes sociais, compartilhamento de informação e o afastamento entre as pessoas que isso gerou. Assim como MGS2, há bastante ideias maravilhosas e uma execução com falhas visíveis, porém é sempre louvável ver um jogo que saí da curva e ainda consegue fazer uma conexão única com seus jogadores.

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