Escrito por Leonam
Depois de lançarem o ótimo (e tecnicamente problemático) Blair Witch em 2019, os poloneses da Bloober Team decidem sair de sua zona de conforto e abandonam a câmera em primeira pessoa muito utilizada em jogos de terror recentes para apostar em algo que nos remete ao final dos anos 90 e início dos anos 2000, quando jogos de terror usavam uma perspectiva em terceira pessoa com câmeras fixas. The Medium utiliza essas técnicas antigas aliando isso aos novos hardwares da Microsoft, e essa dicotomia entre o novo e o velho paira sobre o jogo inteiro.
The Medium conta a história de Marianne Severo uma pessoa especial que consegue transitar entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Durante seu período de luto, após a morte do pai, ela recebe um telefonema de um estranho chamado Thomas que afirma saber sobre as habilidades sobrenaturais de Marianne e promete explicar tudo pra ela se ela for num resort abandonado chamado Niwa Workers Resort em Cracóvia. A partir daí, Marianne tem que investigar a história trágica que carrega esse lugar e também suas próprias origens.
O enredo de The Medium e seu desenrolar é seguramente o ponto mais forte do jogo, criando uma atmosfera de grande melancolia. O roteiro do jogo é hábil o bastante para trazer uma protagonista relativamente bem humorada em contraste aos protagonistas depressivos que esse tipo de jogo sempre traz, mas apenas isso não seria o suficiente para segurar uma narrativa. Felizmente The Medium consegue criar uma história instigante para nos manter interessados nos mistérios da trama ao longo de suas sete horas de duração. Mesmo que não seja envolvo de personagens secundários marcantes, Marianne é o coração do jogo e ela desempenha um bom papel.
Outro ponto peculiar da trama é sua ambientação. Se locais abandonados são explorados a exaustão por diversos tipos de jogos, um game situado no final dos anos 90 na Polônia é algo que não se vê todo dia e o trabalho de recriação de época é competente o bastante para destacar isso durante a gameplay, seja com arquivos, com cartazes espalhados pelos locais ou cartas relatando histórias de antigos frequentadores do resort o que enriquece ainda mais o enredo.
Visualmente The Medium é competente, o resort Niwa é muito bem detalhado e transmite bem a sensação de ser um lugar abandonado que não é habitado por seres vivos há muitos anos enquanto o mundo dos espíritos é um lugar suficientemente macabro para se tornar apavorante, mesmo parecendo uma versão genérica dos pesadelos que vemos em Silent Hill. O que decepciona mesmo é o level design. O jogo tem uma porção de ambientes pequenos e claustrofóbicos servindo bem a temática do jogo mas estes ambientes são recheados de paredes invisíveis, uma solução preguiçosa para um jogo feito com tanto esmero.
A trilha sonora é linda e magistralmente composta por Akira Yamaoka. Se em Silent Hill Yamaoka apostava no peso das canções e eventualmente temas mais sensíveis, aqui ele inverte a lógica e coloca sua sensibilidade em primeiro plano, o que encaixa muito bem com a proposta do jogo e a reedição de sua parceria com a cantora Mary Elizabeth McGlynn é simplesmente emocionante.
O que chamou atenção desde a revelação do game foi a tela dividida que renderizava dois cenários ao mesmo tempo onde suas ações em um cenário afetava o outro e esse aspecto é uma decepção completa. A separação de tela na maior parte do tempo é inútil pois os momentos de ação acontecem majoritariamente em um único cenário tornando o outro cenário absolutamente descartável. Eventualmente a divisão de tela se torna algo agradável devido alguns quebra cabeças que brincam com os cenários, mas não é o suficiente para livrar o jogo de uma mecânica enfadonha.
The Medium é um eficiente jogo de terror com uma narrativa forte. É saudosista mas que tenta entregar algo novo. Se falha em inovar, ele pelo menos conta uma boa história que deve agradar os fãs do gênero, mas deixa a impressão de ser só mais um no meio da multidão.
NOTA: 7/10
Nenhum comentário:
Postar um comentário