terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Review - AI: The Somnium Files


AI: The Somnium Files é mais um jogo de Kotaro Uchikoshi, diretor e escritor da série Zero Escape, famosa por seus mistérios, plot twists e papos pseudo-científicos, características visíveis em AI, onde o protagonista, Kaname Date, é um detetive amnésico da ABIS, uma divisão bem peculiar da polícia japonesa. Date é capaz de realizar o "Psyncing", permitindo-o entrar no Somnium, o subconsciente das pessoas, para auxiliar em seus casos, fora que ele possui um olho robótico chamado Aiba, ou "Ai-Ball", servindo como ferramenta de investigação e comunicação e também como parceira policial.


A trama começa quando em um carrossel de um parque abandonado, é encontrado o cadáver de uma mulher com o olho arrancado, a investigação de Date e Aiba levam à um antigo caso de um serial killer que arrancava um dos olhos das vítimas. O foco será achar quem é assassino e evitar que ele faça novas vítimas, tudo isso usando sua habilidade de explorar "sonhos" pra desvendar esse mistério.

O Psyncing é o conceito principal dentro de AI, te colocando pra jogar com um avatar de Aiba dentro de um Somnium, que funciona como um sonho, misturando memórias e criando um cenário abstrato, então você terá que descobrir como quebrar "cadeados mentais" para assistir uma memória que irá lhe auxiliar a avançar a investigação. As situações dos Somnium variam, por exemplo, temos uma versão medonha do parque onde encontramos a primeira vítima, o objetivo é encontrar uma maneira de tirar uma gaiola elétrica ao redor do carrossel e acessar a estrutura do brinquedo onde há uma pessoa escondida.

Assim como os sonhos são abstratos, as formas de resolvê-los podem ser meio sem sentido, Aiba pode interagir com certos objetos no cenário e realizar algumas ações, então a solução pode ser simples, como chutar uma bola de futebol, ou algo bizarro, como bater um papo filosófico com a bola, mesmo todas opções não sendo necessárias, são divertidas de fazer apenas pra ver o que vai ocorrer e os diálogos entre Date e Aiba.


Não que as outras interações sejam necessariamente inúteis, Date e Aiba podem ficar 6 minutos no Somnium e cada ação vai levar um tempo, fora que essas ações lhe dão modificadores de tempo, que podem diminuir o valor de tempo das ações, que são opcionais, porém bem úteis, e alguns modificadores obrigatórios que dobram o tempo, logo, cada ação tem que ser bem pensada. Inicialmente, pode parecer meio complexo, mas dá pra pegar o jeito, o problema é que acaba virando tentativa e erro em certos pontos, mas não é nada muito complicado e falhar não é tão punitivo.

Dentro do Somnium já dá pra ver ramificações na narrativa, algo similar a Zero Escape, com múltiplos finais e um sendo o 'verdadeiro'. Estranhamente, o jogo te bloqueia no meio do caminho de algumas ramificações, te obrigando a fazer outra rota até achar algo que permita continuar a anterior. Claro que isso é feito pra não estragar algumas surpresas, acho que poderiam ter implementado melhor e ter dado mais liberdade ao jogador, ao menos a narrativa sabe ser instigante, parando em uns pontos decisivos, deixando aquela curiosidade de saber mais.

A história flui muito bem, todo mistério de quem é o assassino e quem vai ser a próxima vítima, e como um evento que aconteceu em uma ramificação pode ocorrer de forma diferente e o grande plot twist foi algo que me pegou de surpresa, é um pequeno fator que quando colocado na história, faz tudo se encaixar. Provavelmente é um spoiler que poderia estragar toda a experiência, então é melhor evitar qualquer coisa antes de experimentar o jogo.



AI também tem um clima descontraído, apesar de achar que o jogo extrapola em certos momentos, como nas "cenas" de ação, imagino que o objetivo delas eram ser absurdas mesmo, mas ficam muito deslocadas com o resto do clima do jogo. É até aceitável, por exemplo, quando temos Aiba fazendo uma análise do cenário e falando pra Date dar um tiro em X local pra bala ricochetear e acertar três sujeitos, agora, quando temos uma cena onde uma garotinha de 12 anos enfrentando um exército de bandidos armados, isso vai além do esperado, fora que as animações de combate são bem truncadas, fazendo uma cena boba ficar mais ridícula ainda.

Mas indo pra parte boa, a dinâmica meio "buddy cop" entre uma IA e um detetive funciona muito bem entre Aiba e Date, ambos vivem se tirando sarro, mas ainda há um sentimento de amizade entre eles, que é até vital pro desenrolar da trama. E os outros personagens são bons, considerando ainda as diversas figuras peculiares, como uma idol youtuber, o fã maluco da idol, uma crossdresser dona do bar que Date frequenta.

Apesar de alguns deixarem uma má impressão por parecerem algum arquétipo meio genérico, pro final do jogo, todo mundo teve um desenvolvimento e um papel nessa trama mirabolante. É até curioso ver que as rotas são focadas em um personagem e alguns finais deixam o caso principal de lado, no meio de diversas qualidades, o elenco acaba sendo o destaque, é aí que AI foi bem especial.

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