Metroidvanias
são jogos extremamente charmosos, de arquitetura complexa e de estrutura que
lembra os melhores contos de Borges. Certamente a respeito do meu pecado de
nunca ter jogado Castlevania: Symphony of the Night muito tenho que falar para
poder justificar a recente extinção do meu pecado – que jogo fabuloso – com
certeza um dos dez maiores que eu já joguei, e primeiramente tenho que
contextualizar duas coisas:
1-
Já tinha jogado na minha (não tão distante) infância Lament of Innocence, um
jogo muito interessante, logo não foi minha primeira incursão na franquia.
2- A
jogatina foi feita pelo PS4 através da excelente (e caça-níquel) coletânea
Requiem.
Seguindo
o raciocínio eu sou como uma debutante musical escutando A arte da fuga pela
primeira vez, como uma criança em choque vendo fogo pelas ruas, tudo, tudo,
apenas percebo como sou juvenil se tratando de games. A primeira memória ao
entrar no castelo normal e ser roubado pela Morte foi Dark Souls, o jogo da
From retornou ao meu imaginário nos momentos frequentes em que navegamos
digressivamente pelos cenários góticos, em que Alucard se mistura à noite (como
Éluard), que destruímos monstros bisonhos (com um belo design) e ganhamos itens
interessantes nos cantos mais obscuros.
É
uma aula de como fazer um mapa inteligente: não há o vazio de jogos como as até
hoje frequentes cópias de GTA III, é tudo muito bem posicionado, útil, corta
toda a inutilidade possível, isso que é o mais interessante. Como em uma
liturgia de cristal, a jogabilidade chama a atenção pela eficiência: magias,
armas, um micro-RPG básico de ação. A qualidade e a diversidade da fauna e
geografia de Symphony of the Night lembra-me o Quarteto para o fim dos tempos
de Olivier Messiaen, mídias inesgotáveis, até hoje – mais de vinte anos depois
– ainda é um jogo impressionante, influente e poderoso. Não é como eu ou você,
que daqui a algum tempo seremos ainda ilustres desconhecidos, é um exemplo de
projeto que transcende o teste da eternidade, isso sim é a definição de um
clássico.
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