quinta-feira, 21 de março de 2019

Castlevania: Symphony of the night, ou quarteto para o fim dos tempos


Escrito por Salomão

 

Metroidvanias são jogos extremamente charmosos, de arquitetura complexa e de estrutura que lembra os melhores contos de Borges. Certamente a respeito do meu pecado de nunca ter jogado Castlevania: Symphony of the Night muito tenho que falar para poder justificar a recente extinção do meu pecado – que jogo fabuloso – com certeza um dos dez maiores que eu já joguei, e primeiramente tenho que contextualizar duas coisas:

1- Já tinha jogado na minha (não tão distante) infância Lament of Innocence, um jogo muito interessante, logo não foi minha primeira incursão na franquia.

2- A jogatina foi feita pelo PS4 através da excelente (e caça-níquel) coletânea Requiem.

Seguindo o raciocínio eu sou como uma debutante musical escutando A arte da fuga pela primeira vez, como uma criança em choque vendo fogo pelas ruas, tudo, tudo, apenas percebo como sou juvenil se tratando de games. A primeira memória ao entrar no castelo normal e ser roubado pela Morte foi Dark Souls, o jogo da From retornou ao meu imaginário nos momentos frequentes em que navegamos digressivamente pelos cenários góticos, em que Alucard se mistura à noite (como Éluard), que destruímos monstros bisonhos (com um belo design) e ganhamos itens interessantes nos cantos mais obscuros. 

É uma aula de como fazer um mapa inteligente: não há o vazio de jogos como as até hoje frequentes cópias de GTA III, é tudo muito bem posicionado, útil, corta toda a inutilidade possível, isso que é o mais interessante. Como em uma liturgia de cristal, a jogabilidade chama a atenção pela eficiência: magias, armas, um micro-RPG básico de ação. A qualidade e a diversidade da fauna e geografia de Symphony of the Night lembra-me o Quarteto para o fim dos tempos de Olivier Messiaen, mídias inesgotáveis, até hoje – mais de vinte anos depois – ainda é um jogo impressionante, influente e poderoso. Não é como eu ou você, que daqui a algum tempo seremos ainda ilustres desconhecidos, é um exemplo de projeto que transcende o teste da eternidade, isso sim é a definição de um clássico. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário