sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Review - Iconoclasts


Joakim Sandberg, conhecido como 'Konjak', é um desenvolvedor que lançou alguns joguinhos como Noitu Love e Legend of Princess, projetos que ele fez sozinho e sempre com uma boa qualidade gráfica e sonora. Em 2011, Konjak lançou a primeira demo de Iconoclasts, que era baseado num projeto anterior chamado Ivory Springs, a demo já mostrava uma espécie de metroidvania que só foi ser lançado em 23 de janeiro de 2018.

Tendo jogado a demo na época, já tive bastante vontade de jogar o produto final, até comprei no lançamento, mas sendo do jeito que sou, joguei um pouco e acabei esquecendo, felizmente o jogo foi dado "de graça" aos assinantes da PsPlus e tive a oportunidade de finalmente terminá-lo, o que eu deveria ter feito no lançamento, pois o Iconoclasts merece.


Marfim é a fonte de energia principal em um mundo dominado por uma organização religiosa chamada One Concern, você controla a jovem mecânica Robin, que herdou uma chave inglesa gigante de seu falecido pai, mas é proibida de usá-la devido as regras impostas pela Mãe, autoridade suprema da Concern. Claro que Robin não se importa e usa seus talentos para ajudar as pessoas, isso lhe mete em um problema fazendo que ela conheça Mina, uma pirata que pertence a uma sociedade que se opõe à tirania da One Concern. Enquanto eventos começam alterar e destruir o mundo, Robin e Mina se juntam para lutar contra a Concern e descobrir todo mistério por trás dessas mudanças.

Acho que o enredo é um dos aspectos mais surpreendentes, no começo o clima é mais leve e bem humorado, depois vai ficando mais pesado, com momentos grotescos e tristes, principalmente pelo fato dos personagens serem bem únicos e carismáticos, até a protagonista, mesmo sendo aquele padrão de "protagonista silenciosa", é bem simpática. O jogo até tem algumas escolhas de diálogo que afetam alguma coisa na parte final, mas não é algo que vale se preocupar em sua primeira jogada.

As vezes a história é um pouco intrusiva, é bem perceptível esse maior foco em história após a metade do jogo, assim como a mudança de tom, acredito que seja algo devido à tanto tempo de desenvolvimento, mas ele mantém a qualidade até o fim. Os personagens tem discussões sobre todo os acontecimentos e crenças desse mundinho, e isso deixa todo esse universo bem fascinante.


Caso você não tenha muita paciência pra trama, ainda tem um jogo muito divertido pela frente. Daria pra classificar Iconoclasts como um metroidvania, só que ele não é muito parecido com as coisas mais padrões do gênero, ele é bem mais linear, você tem algumas ocasionais revisitas a algumas áreas, porém os objetivos tão diretos e foco na trama, tornam ele em algo um action-platformer com elementos de metroidvania.

Os coletáveis são materiais encontrados em baús que podem ser usados para criar "tweaks", habilidades extras que variam entre coisas como vida adicional e uma esquiva. Apenas três habilidades podem ser equipadas e dá pra criar alguns tweaks mais de uma vez. A mecânica para manter as habilidades ativas é peculiar, ações como matar inimigos e utilizar a chave inglesa em parafusos enchem a barra das tweaks, se você tomar dano, perde acesso a uma das três tweaks, é uma mecânica que recompensa quem joga bem, mas dá pra terminar o jogo sem usá-las.

O fato das tweaks não garantirem nada muito valioso, deixa a exploração meio dispensável e, como já dito, o jogo é mais linear, os mapas são pequenos, vez ou outra há um baú no cenário que só ser aberto com algo adquirido no futuro, e desses casos, a maioria não é um lugar que você vai voltar pela história, gerando um backtracking meio desnecessário, principalmente em um mapa com algum elemento que torna meio chato ficar explorando a área, como água em Isilugar e os elevadores na Torre.


Iconoclasts ainda oferece uma jogabilidade interessante em seus puzzles e ação, cada upgrade e arma da Robin serve para alguma mecânica, por exemplo, a segunda arma obtida no jogo é uma atiradora de bombas, elas saem em um arco curto e que demoram pra explodir, o que a torna uma arma que tem que ser usada com mais precisão, essas bombas são capazes de pressionar botões e de impulsionar algumas plataformas, o que permite você acessar novos pontos do mapa e também podem ser arremessar a plataforma para dar dano em um chefe. 

As mecânicas do jogo se destacam bastante em suas bossfights, cada chefe é bem único e requer que você utilize bem seus recursos, alguns não são muito óbvios e parecem complicados, como ficar trocando entre a Robin e a Mina, nos poucos momentos onde o jogo te permite jogar com outro personagem, pode parecer complexo ficar trocando entre duas personagens e realizando ações onde uma depende da outra, mas você vai aprendendo rápido e tudo vai ficando bem natural.

E vale destacar que o jogo se excede em termos visuais e sonoros, além de diversos ambientes variados e únicos com músicas maravilhosas, tudo parece tão bom e funciona, a animação passa bem isso, usar a chave inglesa em um parafuso pra abrir a porta, toda a animação até o som disso parece ter algum impacto e é bem satisfatório, até mesmo nas cutscenes a animação é incrível, mesmo Robin sendo uma protagonista silenciosa, todas suas expressões e atitudes já mostram bastante de sua personalidade, assim como cenas onde alguma coisa grave acontece, sem dúvidas, é uns dos jogos 2D mais bonitos dos últimos tempos.


É sempre difícil sair algo bom de um projeto de tantos anos, por mais que a estrutura do jogo mude lá pro final, o que pode gerar uma estranheza, Joakim Sandberg conseguiu entregar um jogo que, por mais que não tenha algo mega inovador, é bem refinado em praticamente tudo, com uma jogabilidade satisfatória, visuais lindíssimos e uma história cativante.

Iconoclasts lembra muito jogos de plataforma da mais alta qualidade da era do SNES, Megadrive e GBA, e acho que ele deve ser colocado ao meio de tantos outros clássicos, é até difícil de crer que foi feito apenas por uma pessoa, mas esse tempo todo de desenvolvimento é mais do que justificado.

Nota: 9

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